Antonio Canova - Teseu vence o Minotauro (1781-3) |
Subi as escadas a correr. Passei pela escultura perfeita de Canova. Fotografei a cara de Teseu, os olhos, os cabelos ondulados, a expressão vitoriosa, os músculos do braço que empunha a espada mágica, as mãos do Minotauro agarradas ao chão, a traseira de cavalo, os cascos, os tendões de pedra e as linhas dos músculos que se contorciam esmagados. Era o fim do labirinto de Creta.
Mais acima, o outro lanço de escadas levava à exposição de Bruegel.
Promovida pelo Kunsthistorisches Museum de Viena, a mostra de 87 trabalhos do pintor, divididos entre desenhos e pinturas, corresponde a 1/3 das obras que sobreviveram até aos nossos dias. Nas comemorações dos 450 anos do desaparecimento de Pieter Bruegel (1525/30-1569), a oportunidade era única. Reuniram-se pinturas e gravuras espalhadas por museus e colecções particulares, que poucas vezes foram apresentadas ao público, com destaque particular para os dois quadros representativos da Torre de Babel, pela primeira vez expostos lado a lado, e para uma série de quadros e gravuras de influência boscheniana (Bosch 1450-1516) que constituem uma das fases de maior destaque na obra do pintor.
A exposição, organizada pelo percurso cronológico de Bruegel, evidencia as características paisagísticas dos primeiros tempos, a miniaturização transversal aos pintores flamengos da época, os temas sacros inseridos em contextos satíricos e alegóricos, a critica social, marcada pela imagem proverbial identificadora dos pecados e das virtudes do homem, enquanto ser individual e mortal.
É impossível dissociar a obra de Pieter Bruegel do contexto social, politico e religioso da época em que viveu. A censura da Igreja católica, a Inquisição e os autos de Fé, a destruição pública de livros e objectos de arte que atentavam à moral, a Reforma Luterana, o Concílio de Trento, o domínio espanhol dos Habsburgo, a subversão dos valores sociais, a desproporção dos privilégios eclesiásticos, o desprezo dos princípios da fé em prol dos interesses instalados e, sem dúvida, a imprensa, em expansão numa Europa tipográfica, que funcionava como um elemento difusor de um humanismo necessário, de um reformismo fraccionário, de uma sátira social difundida através de gravuras, cujo impacto se fazia sentir na mensagem repercutida junto de uma população maioritariamente iletrada.
Para além das perturbações sociais esta época foi ainda marcada pela pequena “Idade do Gelo”.
Caracterizada por um arrefecimento generalizado das temperaturas, com invernos rigorosos e diminuição drástica da produção agrícola as condições climatéricas geraram a escassez de alimentos, a pobreza e a mendicidade, a deslocação rural para os meios urbanos, a revolta contra os bens eclesiásticos, com assalto e destruição de mosteiros e igrejas onde o conforto do clero contrastava com as precárias condições da população carenciada. Paralelamente, vivia-se uma revolução naval e comercial com expansão dos territórios holandeses e a elevação de Antuérpia a capital económica do norte. (continua)
Pieter Bruegel - Hunters in the Snow - 1565 |
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