"Não era a morte porque me levantei e os mortos jaziam no chão" -Emily Dickinson
A cadeira no palanque sugeria um dos cenários minimalistas de Beckett quando um adereço transforma o proscénio numa janela aberta, e a actuação faz-se de gestos e falas onde a alma das personagens é um conglomerado de civilizações presentes e passadas, fragmentos de livros, bocado de homens, farrapos da desgraça humana.


Quando nesta Páscoa, ouvi falar em ressuscitar, nada me pareceu mais apropriado do que recordar o episódio desta mãe que, em nome do perdão e da compaixão, dá ao mundo uma lição da providência divina. Conta que o seu filho lhe apareceu num sonho rogando pela vida do assassino. Disse que se encontrava bem, num local tranquilo, pelo que nada se ganhava em vingar a sua morte, com outra vida. Suspendendo a execução no último minuto, esbofeteia o homicida e liberta-o dos laços do destino.Perdoar não é esquecer, nem vem acompanhado com qualquer expectativa de compensação. Perdoar constitui sempre o alívio de nos livrarmos de um peso excessivo, para o qual em nada contribuímos, nunca constituindo a raiva ou o rancor uma mais valia para a nossa própria reconciliação. Por isso as imagens divulgadas tiveram aquele efeito de câmara clara, introduzindo-nos naquele tilt de Beaudelaire em que as contradições e os sentimentos intensos revelam "a verdade enfática dos grandes momentos da vida".
Ressuscitar conforme as Escrituras, tem subjacente o percurso do Calvário e das estações do martírio. Ressuscitar para este homem, teve certamente subjacente a aprendizagem de uma nova oportunidade, de se reconciliar com a vida. Fotogr. Arash Khamooshi /Isna
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