31.3.14

Projectos

Grécia - Sifnos

Todas as pausas na vida são benéficas para a tomada de decisões. São selectivas para levantar o véu sobre os destinos.
Como esta igreja remota, há dias que só nos apetece iniciar retiros, isolarmo-nos por uma dezena de anos como Zaratustra, descobrir o mundo e extasiarmo-nos com perplexidade com o que se cruza no nosso caminho. É por isso que decidimos que era altura de reconciliar os sentidos.

Em retiro, estabelecemos cumplicidades com os sentimentos e os caminhos. Escrevemos sobre as tréguas e o sussurro das almas inquietas. Contamos ao vento as fantasias. Inventamos tempestades, criamos epigramas auspiciosos ou fatalistas da vontade.

Depois das pausas, enxertadas no percurso e de desenferrujados os impulsos das metáforas, chegou a hora de encontrar o ponto hábil. Regresso à escrita neste blog, porque todas as outras escritas foram acontecendo sem se importarem com o côncavo ou o convexo do tempo.

Regresso, particularmente àquele que acontece quando projectamos na nossa tranquilidade e na nossa solidão todos os momentos em que entramos pela porta da imaginação. Aí o atrevimento, a lascívia ou a fantasia têm asas livres para contrariar a imensa letargia que a racionalização do trabalho, que semanalmente nos escorre por entre as mãos, naturalmente nos obriga. 

Por isso estes são momentos de retiro únicos.
Sei por isso que neste percurso, em solitário repouso, neste ermo sem dono, o vento não uivará por entre os sinos. 
Cumpre por isso recolher a inspiração do mar. Nos confins infindáveis, onde a força se mistura com o destino num jogo de fenómenos litorais amestrados, acontece uma pudica diminuição das luzes e a viagem faz-se por barcas de Caronte, asas de Ícaro amargas, Prometeus agrilhoados ou círculos concêntricos de Dante sem esperança para as almas condenadas. 
Viajar pelo paralelo das emoções, é um desafio acolhedor, uma odisseia de explosões que relega a realidade para outro lugar. 
Nesta dimensão exploram-se as imensas refracções em que se desdobram os movimentos artesianos e as imagens plásticas, maduramente domesticadas, da nossa imaginação. 
É essa viagem pelo mundo da provocação que se impõe, desde já, começar.
CRV - 2014

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