20.7.13

Rolling DICE

São recentes as memórias da explosão, dos cadáveres pelo chão, dos corpos mutilados, dos rostos ensanguentados, da confusão, dos gritos e das bandeiras americanas presas nas mãos de quem aguardava o final de uma corrida que acabou por estilhaçar todas as metas, no ódio de um fundamentalismo, com uma visão distorcida da razão. 

Numa manobra de marketing controversa, a Rolling Stone conseguiu captar a atenção dos orgãos de comunicacão social americanos e do público em geral, com a decisão de protagonizar na sua capa de Agosto o bombista de Boston, Dzhokhar Tsaamaev. Não pondo em causa a liberdade de imprensa e a utilidade da reportagem no seu interior, - que traça a biografia de Tsaamaev, procurando encontrar a origem do inexplicável - a questão que se coloca, e que consternou grande parte da sociedade americana, foi a forma como se exaltou uma recordação inútil, perturbadora da realidade, estampando a face do terror num lugar reservado à idolatria de alguns elementos da música internacional. 
Comparado a Jim Morrison, pela expressão suspensa e o rasgo cândido no olhar, o povo americano rejeitou, veementemente, a recordação do sádico que veio ensombrar a cidade, personificando o mal e o desconforto entre a sua população. 
A solidariedade social, gerada em torno das famílias das vítimas, apelou ao boicote das distribuidoras que responderam prontamente inviabilizando a sua divulgação. 

Curioso é que, em Maio passado, a mesma fotografia de Tsaamaev foi capa da Time não havendo qualquer boicote ou reacção a assinalar. Se esta foi uma manobra de marketing da Rolling Stone, procurando tirar dividendos de um amargo cinzento constrangedor, o mercado, com as suas leis gerais e abstratas, ditou e bem, que há temas que mais vale dissecar pela sombra.


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