23.12.12

Como falam, o Silêncio e a Solidão?


Wittgenstein
"Aquilo de que não se pode falar, é preciso calar. O que se mostra é o que seria inútil procurar dizer, é o ser. Para quê procurar dizer ou pensar o ser? O ser mostra-se sozinho, indica-se-nos no ruído, num silêncio ensurdecedor" 
Wittgenstein

O silêncio é um daqueles paradoxos cuja ambiguidade apetece dissecar de modo a analisar minuciosamente as lamelas que, após cuidada observação, revelam sinais indizíveis de uma linguagem feita de sinais. Apesar de, aparentemente, o silêncio nada dizer, o facto é que se anuncia. Faz-se esperar. Comunica a sua indisponibilidade através de um conjunto de anagramas, que abrangem o todo e o nada, onde a utilização de uma linguagem simbólica convola a mera ausência numa presença insinuada. E, não terá esta metáfora da não comunicação uma presença viva, um sentido claro, uma leitura deliberada? O tema sugere-me aquelas dissertações filosóficas que não levam a nada, caiem num vazio, mas que, por outro lado, prendem pelo mistério que se esconde por detrás de uma espécie de culto que explora outras formas de comunicação. Como Walter Benjamin refere, "toda e qualquer comunicação de conteúdos é linguagem, sendo a comunicação através da palavra apenas um caso particular". Sob o ponto de vista social, o silêncio pode ser encarado como a consumação de uma rejeição, como uma indisponibilidade afectiva, como um desinteresse na partilha, como um refúgio na própria solidão. Mas a solidão que lhe está inerente, pode ser ambivalente uma vez que tanto pode constituir espectro de um estigma como pode resultar de uma opção deliberada com vista à própria elevação. Essa, é decididamente a faceta que mais me interessa, na medida em que constituirá, à imagem de Zaratustra, de Jonas e de tantos outros, uma busca do caminho da própria redenção.
Platão
Tolentino Mendonça questiona se "a solidão não será também uma porta onde se revela, no maior isolamento, uma visão inesperada?".
Não será essa a sonoridade acústica, apenas perceptível aos ecos indizíveis da alma? E com a reflexão surge o espaço que se ganha que tanto poderá potenciar a queda, como criar raízes e evidenciar um caminho onde o passo deixará marca e a marca será revelação. Este silêncio, e esta solidão, terão então uma faculdade pedagógica, predominantemente positiva, à imagem de alguns desafios bíblicos onde a percepção do místico se obtém através do tranquilo escutar do murmúrio das brisas do mar e não através do ribombar do trovão.
Comodamente, podemos sempre encarar a alma como Platão. Fraccionada, em conformidade com a diversidade das operações da vida que a integram. A cada uma dessas faculdades corresponderá um comportamento e a conquista de um ritmo humano que perante as necessidades tende a construir, por opção, um caminho de verdade, sereno, de reconhecimento, silêncio e justa reflexão.

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