16.12.12

A Imaginação como Instrumento de Libertação

Pascal
Pascal desenvolveu a teoria da contenção da imaginação defendendo  um travão à sua força criativa. Domina-la, criando barreiras intransponíveis, dotadas de responsabilidade e razoabilidade seria o modo de vedar a luxúria que exacerbava os neurónios até à exaustão. Lembrei-me de Pessoa, e do quanto teríamos perdido com o refreio da sua imaginação multi-facetada, à qual se referiu na sua "prosa íntima", como uma ave voadora que era parte indissociável de um projecto futuro, inspirado em "sonhos, delírios e voos encantadores da imaginação que lhe acariciavam o cérebro". Pessoa confessa-nos que a sua vida se reconduzia a uma enorme passividade. Centrado nos sonhos, que lhe impregnavam a mente, a imaginação tolhia-o fisicamente, condicionando os seus actos e atropelando-lhe a concretização do seu raciocínio, interpondo-se outros pensamentos, que se subdividiam em mais mil, e que o afastavam da produção das suas conclusões. Assumindo-se com um intelecto flexível, refere-se à heteronomia, como algo que lhe impregnava o espírito com diversas emoções, conduzindo as suas personagens com o à vontade de "quem abre a porta a um visitante" e, por osmose, se acomoda à sua pele.
Pessoa
A metafísica, e as divagações da mente, são para Pessoa "uma caixa para conter o Infinito" talvez por isso "tenha agido sempre para dentro, nunca tocando na vida, esboroando-se os sonhos sempre que se propunha transformá-los em gestos". Como qualquer sonhador, Pessoa, heroicamente comandou exércitos, venceu grandes batalhas, gozou grandes derrotas, amou e pecou, tudo dentro do seu universo, parando, quantas vezes, na margem da vida com o assombro sobre um mundo do avesso. Entre Pessoa e o Mundo havia sempre uma "névoa que o impedia de ver as coisas como as outras pessoas as viam". Dizia-se "um espectador criador de anarquias", decompondo a realidade com uma "volúpia acre" deturpando-a em "inúmeros espelhos fantásticos" que accionavam a sua criatividade infinita. Pessoa, aproxima-se da felicidade preconizada por Descartes ao explorar o poder da imaginação, convolando as angústias, as dores e as tristezas em instrumentos que transportam o drama vivido para um palco. Perdendo os dramas na sua essência, relevância e substância, o sujeito passa a   espectador de um teatro, sujeito a poses multifacetadas, centradas num conceito de estética que decorre em vários actos, ensaiados sobre um palco animado.

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