Michelangelo Buonarroti - 1508/12 - Profeta Jeremias |
Numa evocação metafórica aos "olhos de Deus que perscrutavam toda a terra", Michelangelo elegeu sete profetas e colocou-os estrategicamente à volta do tecto da Sistina. Sete profetas que observam o que se passa na Capela e no Mundo remetem-nos, inevitavelmente, para os Sete Dias da Criação, mas também, para algumas das principais teorias esotéricas do universo judaico. Sete são os degraus espirituais da Middot que nos aproximam de Deus. Sete é o número de velas do candelabro sagrado da Menorah. Sete foram as Nuvens de Glória que protegeram os Filhos de Israel despojados de pátria, de solo e de sossego, enquanto erraram pelo deserto. Sete são também as características das sete esferas inferiores da Árvore da Vida. Com correspondências cabalísticas directas os sete profetas ajustam-se, na perfeição, à mensagem de redenção espiritual, não só para os judeus, mas também para o resto da humanidade.
Michelangelo demonstrou inúmeras vezes que a encomenda da Sistina constituiu um calvário e um desafio às suas capacidades físicas. O esforço que dedicou e a incorrecta postura física que o obrigou, durante 4 anos, a pintura do tecto, tiveram repercussões até ao final da sua vida. Talvez por isso tenha efectuado com especial empenho as últimas duas figuras, inserindo uma quantidade superior de mensagens ocultas em redor dos dois profetas que sobrevoam o trono papal. Jeremias, o lúgrebe profeta, expõe-nos com uma expressão pesarosa o seu lado esquerdo, considerado o mais sinistro, observando apreensivo o trono papal. Jeremias, (ao qual já me referi aqui) foi o profeta que se insurgiu contra a corrrupção infiltrada entre os sacerdotes e os líderes do seu tempo, profetizando a devastação de Jerusalém e advertindo o povo para que se rendesse aos babilónicos. Acusado pelos judeus de traição, Jeremias seria poupado por Nabucodonosor. A sua desolação seria luminosamente revelada, mais tarde, numa das obras primas de Rembrandt que se encontra hoje no Rijksmuseum de Amsterdam.
Michelangelo Buonarroti - 1508/12 - Profeta Jonas |
Michelangelo faz de Jonas o porta voz final e mais eloquente da Capela Sistina, pois viu nele o seu alter-ego, um profeta relutante forçado pela vontade divina a realizar uma missão que pretendia evitar a todo o custo. É com os quatro capítulos do livro de Jonas que se fecha o Yom Kippur, o dia mais sagrado para os judeus, e foi com Jonas que Michelangelo concluiu o tecto da Capela Sistina. A sua mensagem, sustenta a obrigação de ajudar os perversos a afastarem-se das suas inclinações nocivas de modo a evitarem a ira divina. Michelangelo encontrava-se profundamente chocado com a corrupção da Igreja, gerida numa ânsia de luxos e riquezas que subvertia toda uma política de transparência cristã. A Biblia diz-nos que um sistema profundamente mergulhado na corrupção foi em tempos salvo pelo arrependimento e pela palavra de Jonas. Nínive, a cidade pecaminosa aprendeu a lição mais importante, a de que nunca devemos desistir dos pecadores, pois nunca é demasiado tarde para acreditarmos na sua redenção.
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