19.10.12

Michelangelo - O Regresso às Origens

Moisés - 1513/15 - Michelangelo
Depois de dedicar quatro anos da sua vida ao tecto da Capela Sistina, Michelangelo regressou, finalmente, ao martelo e ao cinzel, com ganas de recuperar o tempo perdido. Saudoso dos grandes blocos de mármore, que tinha deixado em suspenso no estaleiro da nova Basílica de São Pedro, Michelangelo, com uma explosão de energia criativa, atirou-se a seis grandes nus masculinos e a Moisés, o colossal profeta judeu que ficaria no centro do monumento funerário dedicado ao papa Julius II. Pioneiro no estilo non finito, que levaria mais tarde a sua chancela, Buonarroti antecipou os movimentos cubistas e impressionistas do futuro, dando um aspecto inacabado às suas esculturas, explorando conceitos que o colocaram na vanguarda renascentista. Minimizando a decoração e os trajes das suas obras, Buonarroti explorou os drapeados e os nus, produzindo peças que eram reflexo de um conjunto de princípios e ideias relacionadas com a formação multidisciplinar que recebeu na corte dos Médicis, em Florença. 

Conciliando duas culturas com origens comuns, Michelangelo projectou a estátua de Moisés, para o coração da Basílica de São Pedro. Moisés, o profeta que contactou com Deus no Monte Sinai, foi aquele que atingiu o mais alto nível de espiritualidade e a quem foram confiadas as Tábuas da Lei. Tocado por Deus, a sua face irradiava uma luz divina o que o obrigou a usar uma máscara para não ferir os olhos dos seus irmãos israelitas. Animado pelo fascínio que sentia pelas estórias do Antigo Testamento, Michelangelo representou Moisés com o seu dom profético, animado pela visão do futuro longínquo da humanidade. Adoptou para isso a mesma técnica utilizada em David, afastando ambos os olhos e aprofundando-os obtendo um resultado etéreo, com o profeta fixo no infinito, nunca fitando directamente o observador, seja qual for a posição em que se encontre dentro da Basílica. Buonarroti dedicou-se de corpo e alma a esta obra. Quando a concluiu, diz-se que o seu realismo era tal que Michelangelo colocou as mãos nos ombros do profeta e lhe gritou: "Fala, caramba, fala!", como se às pedras se desejasse instigar o dom da vida.

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