"Na casa do Algarve as janelas eram grandes, abertas para o oceano. As paredes brancas estavam decoradas com quadros de rabiscos e borrões sem sentido para a senhora Cecília. Arte, diziam-lhe. E as Santas? Outros monos. Espalhadas pelas salas ou em nichos nos corredores, tudo madeira carcomida pelo bicho, algumas já manetas outras sem narizes, tinham custado um horror de dinheiro e custavam outro tanto para que o bicho não as comesse. As piores eram as carecas, com saias de armação de madeira. Arte Sacra, diziam-lhe também. Mas ali não havia vida, eram apenas coisas feias a imitar gente, há muitos séculos atrás saíam em procissões, com perucas, lágrimas de vidro e outros adereços, umas vestidas de santos outras de mártires e anjos, até de Jesus Cristo e de a Virgem Mãe. Quis o destino que ali fossem acabar os seus dias, numa casa cheia de sol, mas só de vez em quando.
O seu lugar preferido era o salão do primeiro andar, de lá via todo o jardim e o pomar, ao fundo a piscina que se prolongava até ao mar, parecia mesmo acabar no mar."
Quando os amigos escrevem livros...poderia ser o título deste post. Germana Vaz Pinto, advogada, jurista, amiga de infância, arquitecta de ficções e de ilusões, lança-se, pela primeira vez, neste mundo dos livros de modo próprio com a vontade de germinar palavras que lhe sussurra o vento. O livro é uma história contada no feminino. Três gerações de mulheres e os seus percursos. Uma leitura que traça rotas nos sentimentos mais profundos aos quais não são alheias as vicissitudes da vida, as alegrias, os desgostos, a tristeza, a dor e a reconciliação.
A apresentação será amanhã, Sexta, 4 de Nov. pelas 18 hrs, no salão da Câmara Municipal de Lisboa, em Entrecampos.
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