22.7.11

“Faites vous jeux”

Os dados foram lançados pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, quando, em Maio passado, numa entrevista extensa, concedida à revista da Ordem dos Advogados, proferiu declarações polémicas sobre a questão da ordenação das mulheres para o ministério do sacerdócio apostólico. Ao afirmar que o tema era “uma questão de igualdade fundamental de todos os membros da Igreja, impossibilitada apenas por questões de tradição que radicam no Novo Testamento”, D. José Policarpo levantou uma onda de indignações e de protestos, por parte dos laicos que compõem os sectores mais conservadores da Igreja Católica. Veio agora, no passado dia 7 de Julho, retratar-se, esclarecendo que “verifiquei que, sobretudo por não ter tido na devida conta as últimas declarações do Magistério sobre o tema”, declarando que “a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”. Mas a opinião já estava dada. D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa, aguarda a resignação do seu mandato, a qual solicitou em carta endereçada ao Papa, em Fevereiro passado. Por isso, o momento é oportuno para se fazer ouvir. Por isso, são necessárias vozes de mudança que sintonizem as questões da fé com a era tecnológica e de crescente respeito social pelas orientações de cada um. A igreja, sob pena de perder o espaço reduzido que ainda lhe assiste, deverá libertar-se das práticas, rituais e filosofias obsoletas, com as quais o cidadão comum cada vez menos se identifica. Por todo este descompasso, a religiosidade de massas tem-se descaracterizado e transformado numa religiosidade individual. Cada vez mais tendemos a procurar dentro de nós o encontro entre o sagrado e o espiritual, rejeitando as emoções de conjunto, com crescente esvaziamento de conteúdos e ausência de respostas relativamente às nossas necessidades espirituais. D.José Policarpo, é um homem culto. Licenciado em Teologia Dogmática, em 1968, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, foi professor e reitor da Universidade Católica Portuguesa entre 1988 e 1992. Conhece bem os dogmas da Igreja, por isso, não convence a sua retratação de 7 de Julho passado, antes ficando a imagem de uma voz precursora desarreigada dos tabús e do inanovismo que a Igreja teima em fossilizar. Acreditamos que os dogmas da Igreja só subsistirão caso tenham uma sustentação credível e, se o sacerdócio das mulheres é um instituto discutível pelo abandono de um entendimento de 2.000 anos de história, já o caso do celibato dos padres, instituído por Gregório VII, no ano de 1074, é paradigmático da incoerência de uma proibição que não encontra na génese da Igreja qualquer justificação plausível. A Igreja, guiada e protegida pelo Espírito Santo, insiste na sua missão de divulgar o Evangelho pelo mundo: "ide e ensinai todas as nações, baptizando-as no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo", contudo, deverá sintonizar-se com os tempos modernos, caso contrário, dentro de algumas décadas, já não restará ninguém motivado em acolher as revelações das Sagradas Escrituras.

1 comentário:

Olga disse...

Wow, this is pretty amazing. Probably a historical time for Catholic church. It's almost like the time when women acquired their voting rights. How did this end? Is it still too early to become reality?