17.1.11

Bornéo - Ainda vamos a tempo?

Quando, em Outubro de 2009, regressei de uma viagem ao Borneo não pude deixar de manifestar aqui a minha estupefação relativamente às politicas de desertificação florestal adoptadas pelo governo malaio. Legisla-se o absurdo, privilegiando a erradicação da floresta virgem, e a consequente destruição de habitats naturais, em benefício de interesses económicos vocacionados para a exploração do combustível do futuro: o óleo de palma. Segundo o governo malaio, o país entrou na corrida para a liderança mundial das energias vegetais, alternativas às energias fósseis. A desflorestação, para a plantação de palmeirais, tornou-se uma prioridade nacional. O projecto megalómano é responsável, entre 1995 e 2000, pela redução de 86% da floresta virgem do Borneo, veja-se aqui com a consequente redução da biodiversidade, em percentagens que rondam os 80 a 90%. Destas estatísticas acrescem ainda os danos colaterais provenientes do uso indiscriminado de pesticidas, das queimadas - que se sucedem a um ritmo vertiginoso -, do desvio dos cursos de água e da inexistência de corredores florestais ao longo dos rios, que permitam a mobilidade dos primatas. Todos estes  factores são determinantes na pulverização da vida selvagem deste ecossistema. A degradação do habitat promoveu, em 2009, um colóquio no Shangri-la Rasa Ria Resort, em Sabaha, entre representantes da indústria do óleo de palma e cientistas que se dedicam ao resgate e conservação de orangotangos do Bornéo. Como seria de esperar o colóquio apenas insuflou mais uns sacos de vento que foram atirados para o ar entre os croquetes e os cocktails dos gestores das indústrias transformadoras do óleo de palma. Confrontei-me hoje, por casualidade, com este pedido de adopção inédito cujo patrocínio, assegurado pelo World Wide Fund, é sinónimo de garantia e credibilidade. Apesar da iniciativa ser a todos os níveis louvável questiono-me qual a utilidade da mesma face a uma política governamental que não cede perante interesses económicos que, indubitavelmente, falam mais alto do que as causas ambientalistas. Por outro lado, é conhecida a falta de ecos profiláticos que emanam das Conferências Internacionais sobre biodiversidade e alternativas ecológicas, facto que me faz acreditar que, dentro de 50 anos, o último espécime de orangotango do Bornéo esteja empalhado no Museu de História Natural de Londres para, aí sim, todos podermos apreciar o primata extinto que tinha 96,4% de genes idênticos ao da espécie humana. Apesar do pessimismo, ganharam uma patrocinadora.
Malásia - Bornéo - Kinabatan River
Fotogrs: CRV

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