Se passarmos revista a algumas das publicações científicas mais famosas, o “American Journal of Science” ou o “Council of Science Editors”, verificamos que é comum a todas estas publicações a exigência feita aos cientistas de esgotarem, previamente à publicação, todas as variáveis, verosímeis e inverosímeis, relativamente à tese proposta. O objectivo é que não existam fragilidades que facilmente venham a ser delapidadas, pelas teses contrárias, fazendo-as cair por terra como castelos de cartas. As incongruências numa tese pagam-se caras, particularmente, junto da comunidade científica, sendo comum ocorrer a descredibilização do autor remetendo-o, se não definitivamente, pelo menos temporariamente, para o esquecimento. Foi por isso com alguma satisfação que recordo a notícia que dava conta, no início deste ano, - à data das comemorações dos 200 anos do nascimento de Darwin -, da aclamação definitiva, efectuada pelos seus actuais pares, da Teoria da “Origem das Espécies”. Após 150 anos de inúmeras tentativas de descredibilização e de especulações infundadas, apraz-me verificar que a tese de Darwin foi vivamente reconhecida, como a teoria que efectivamente explica a evolução do homem, de acordo com o método de selecção natural. A teoria de Darwin (bem como de Alfred Wallace, que normalmente é esquecido como co-autor da tese) deve o seu êxito porque se consubstanciou numa argumentação relativamente simples, demonstrando de forma clara, lógica e evidente, o método do “parentesco evolutivo”, afastando as justificações teleológicas até aí adoptadas. Essa simplicidade, tornou possível uma fácil adaptação aos novos desenvolvimentos científicos, levados a cabo nos últimos 150 anos, nomeadamente, aqueles que envolveram descobertas no campo da genética ou da matemática aplicada. Não deixa de ser curioso analisar algumas das teses de descredibilização de Darwin, a maior parte delas consubstanciadas em justificações teleológicas, como é o caso de algumas teorias de inspiração judaica, ou outras, como a desenvolvida por Lamark, que apelava ao fixismo das espécies, invocando a sua origem divina. Todas falharam, liminarmente, em apresentar explicações, credíveis e de forma científicamente sustentada, sobre a origem e a evolução do homem. Todas se perderam em considerações que acabaram sempre em becos divinos sem saída. Sendo meramente uma curiosa na matéria, constato que a simplicidade da tese de Darwin e as provas apresentadas foram sinónimo de longevidade. Contudo, sem dúvida, a descoberta na Etiópia, em 1974, de um esqueleto com 3,5 milhões de anos, apelidado de “Lucy” (devido à música que tocava na altura da sua descoberta: “Lucy in the sky with Diamonds” dos Beattles) – uma hominídeo Australophitecus afarensis" -, bem como aos testes de DNA efectuados, foram determinantes no reconhecimento definitivo dos princípios subjacentes à tese de Darwin, aos quais este apelou desde o primeiro momento. Não deixa de ser curioso constatar que o grau de solidez de uma tese não reside, necessariamente, na sua complexidade. Por vezes, são os argumentos mais simples, desde que devidamente comprovados, que alicerçam definitivamente e para o futuro uma teoria. As teses de Copérnico, Galileu - precursor de Newton - e, obviamente, Darwin são exemplos que a História nos comprovou disso mesmo.
22.9.09
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