4.6.17

De Mineralibus de Albertus Magnum

Muito antes da Inquisição ter chamado à colação os arautos moralizadores da sociedade, expurgando na fogueira os inconformados com as mentes hipócritas fossilizadas, castrando os cupérnicos da ciência e as novas ideias, encontrando sempre espaço na rama do palanque para queimar os herbários e as bruxas de ervanária, houve um frade dominicano, nascido na Alemanha, sábio medieval, escolástico, que se destacou numa pluralidade de áreas da ciência que lhe valeram o apelido honorífico de “Doctor Universalis”. Acredita-se que Albertus Magnum tenha nascido pouco antes do ano de 1200 e terá sido quando estudava em Pádua que terá tido uma visão da Virgem Maria que lhe mudou a vida e o fez optar pelo sacerdócio. Apesar da oposição da família, decide entrar para a Ordem dos Pregadores, lecciona em Colónia e em Paris, altura em que São Tomás de Aquino se torna seu discípulo, aprofundando uma multiplicidade de valências científicas que abrangiam a astronomia, a teologia, a mineralogia, a física e a filosofia. Mas foi ao ler um excerto do seu tratado de mineralogia intitulado “Mineralibus” que me interessou particularmente aquilo a que Magnum apelidou “A Forma e o Poder das Pedras”. E escreverei daqui em diante Pedras, com letra maiúscula, porque Albertus Magnus e os seus discípulos inspeccionaram-as minuciosamente, de todos os lados e quadrantes, tirando ilações, fazendo especulações, escrevendo dissertações e chegando a conclusões que inovaram para sempre o panorama geológico da humanidade. E isto porque, simplesmente, uma Pedra não é só uma Pedra, meus senhores. Uma Pedra tem muito mais que se lhe diga pois não só tem côr ao olhar, formas arredondadas ou bicudas ao tocar, cheiro ao inalar, algumas sulfurosas outras acidas, mas muito mais importante que tudo isto Albertus Magnus, com a sua peculiar curiosidade incisiva, descobriu que as Pedras têm segredos intrínsecos dos quais não é possível dissociar. E disserta assim sobre os poderes das Pedras: 
Albertus Magnum 1200-1280

“As pedras têm poderes “ocultos” ou “escondidos” que não se podem identificar com os sentidos, como sejam, se estão quentes ou frias, molhadas ou secas, se se identificam com o ar, a água, a terra, o fogo, ou qualquer um dos quatro elementos da natureza”. 

Desses poderes, dá como exemplo os poderes ocultos das pedras que denomina como a sua “forma específica”. Essa “forma “ será aquela que agrupa uma pedra num conjunto da sua espécie e que ajuda a distinguir uma pedra magnética de uma safira. E acrescenta: 

“Duvidar que as pedras têm “formas substanciais” é loucura uma vez que essa certeza resulta da observação e da constatação da sua solidez e da sua matéria intrínseca. E isto porque os elementos que as constituem não têm a volatilidade das nuvens, da neve ou da chuva, uma vez que estes se desagregam com facilidade e se dissolvem em outros elementos. Aquilo que vemos acontecer na natureza das pedras é exactamente o oposto. Mais, nas pedras encontramos poderes - como o de expelir venenos, úlceras e atrair ou repelir o ferro - que não resultam de qualquer elemento conhecido. Segundo a visão partilhada por todos os especialistas, estes poderes resultam da espécie e da forma desta ou daquela pedra. Assim, fica claro que as pedras têm formas e espécies fixas e muito embora essas formas não sejam almas, como alguns dos nossos antepassados pensavam…considero que serão antes “formas substanciais” distintas, originadas por forças divinas com uma composição específica de certos elementos. Não há no nosso léxico denominação para essas formas, contudo, os diferentes tipos de pedras são susceptíveis de ser agrupadas em safiras, esmeraldas, mármores ou sílicas". 
Fotogr: net

Considerando a teoria de Magnus sobre o “poder oculto” das Pedras percebo agora o poder da pedra que trago há uns anos sempre comigo no bolso. Apanhei-a numa praia deserta. A sua forma branca, oval, achatada, suave ao toque, sem arestas, fez-me guarda-la acreditando que tem algum poder oculto para transformar a minha vida. Cada vez que venho a esta praia, e inicio as minhas caminhadas em silêncio à beira mar, gosto de a sentir contra a palma da minha mão, sentir-lhe a textura lisa e, ao modo de prece velada, acreditar que ao aperta-la alguma revelação órfica se irá  concretizar, com hierarquização das causas celestes e inquestionáveis efeitos terrestres da vontade do Criador. CRV©

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