23.12.11

Private Clubs

On ne naît pas femme: on le deviant.
Simone de Beauvoir, Le Deuxième sexe, II p. 13

Não pude deixar de sentir a mais profunda indignação quando li à dias a notícia macabra de um homem que mutilou os dedos da mão direita da sua mulher pela simples razão de esta pretender prosseguir estudos superiores. Os factos ocorreram no Bangledesh, país integrado no rótulo terceiro mundista, mas que, no seu historial, não se caracteriza pela violação dos direito das mulheres, nem por atentados às liberdades individuais. O acto tresloucado será, sem sombra de dúvida, manifestamente isolado, mas contém em si mesmo uma metáfora, uma transgressão singular típica do velho mundo, o tal “tour de force” de oposição à natureza e ao inevitável movimento do progresso. "Não se trata apenas, como pretende Simone de Beauvoir, de uma questão entre a biologia - a natureza de ser mulher - e a psicologia - a questão cultural da mulher na sociedade -. Aqui, trata-se sempre do mito da castração e das suas consequências traumáticas com o masculino". Trata-se de um confronto sexual subconsciente e latente, subversivo, inerente ao modo como estas duas transcendências – feminina e masculina – são encaradas. Ao invés de se reconhecerem mutuamente, cada acto libertador tem sempre subjacente a vontade de procurar dominar o outro. No fundo, foi a tudo isto que se denominou a guerra dos sexos. Há ainda quem a ache apelativa e a cultive pelo simples facto de alguns homens não se conseguirem desligar do espírito primevo da moca e da desconstrução da personalidade igualitária da mulher. Resta-nos esperar pela evolução das sociedades masculinizadas que, à semelhança dos “british private clubs for gentlemen”, mais tarde ou mais cedo confrontam-se com uma mulher audaz que não necessita de pedir licença para promover a necessária evolução darwiniana num conjunto de mentes fossilizadas.

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