19.12.11

Leonardo - Um pintor na Corte de Milão

Há exposições que se poderiam chamar “Once in a lifetime”. Por isso mesmo, as motivações que nos fazem quebrar as barreiras da distância e do tempo colocam-nos em plena Trafalgar Square, sujeitos ao frio glaciar, na fila que se forma, às primeiras horas da madrugada, em frente às bilheteiras da National Gallery. Decorre em Londres a maior exposição de sempre de Leonardo Da Vinci. Com os bilhetes on-line esgotados em poucas horas, para todo o período da exposição (9 Nov 2011– 5 Fev 2012), o mercado paralelo inflaccionou as entradas para valores que oscilam entre as 350 e as 400 libras. Conseguir bilhetes por 17 libras é uma questão de sorte. Diariamente são disponibilizados 500 ingressos, que se esgotam na primeira meia-hora, logo após a abertura das bilheteiras. Mas a espera valeu a pena.
Foi há cinco anos que surgiu o projecto da magna exposição de Leonardo, na sequência do restauro , pela National Gallery, da “The Virgin of the Rocks” . Nenhuma outra exposição tinha projectado a obra de Leonardo, sob o ponto de vista da sua carreira e dos quadros que executou. Com Leonardo, os conceitos da pintura redesenharam-se. A escola de Verrocchio, que frequentou, pela mão do seu pai, desde os 14 anos, proporcionaram-lhe os instrumentos necessários que o destacaram de imediato, entre os seus pares no estúdio do mestre de Florença. Como referem dois dos seus biógrafos contemporâneos, Paulo Giovio e Georgio Vasari:

“Leonardo era um jovem homossexual atraente, que manifestou, desde muito novo, uma aptidão multidisciplinar, um perfeccionismo na execução dos seus trabalhos, com o defeito insanável de se perder nos inúmeros interesses em que ramificava a sua sede de conhecimento, levando-o a abandonar prematuramente, quase todos os projectos em que se envolvia ”.

Leonardo deixa Florença em 1482 e instala-se em Milão sob o patrocinio de Ludovico Sforza. É sob a égide do Duque de Milão que Leonardo executa alguns dos seus trabalhos mais famosos, “O Retrato de Cecilia Galleani”,“Retrato de um Jovem Músico”, a “Bella Ferronière” e a “A Última Ceia”. Envolvido numa multiplicidade de projectos paralelos, Leonardo desinteressa-se frequentemente por algumas das obras iniciadas, sendo “S. Jerónimo”, a “A Adoração dos Magos” e  “The Virgin of the Rocks”, da National Gallery, algumas das obras inacabadas que declinaram perante novos interesses. Apesar das poucas obras terminadas Leonardo foi o expoente máximo do seu tempo, revelando na sua obra o carácter inovador das técnicas utilizadas, a destreza na representação da anatomia humana, e o estudo intensivo do movimento das formas e das sombras.
Sintomática desta revolução foi o abandono, em quadros como “O Retrato de Cecilia Gallerani”, das poses de perfil conservadoras que marcavam a época. Leonardo, revolucionou a expressão facial dando reflexo às emoções, firmeza ao olhar, sedução aos pormenores do rosto, olhos, lábios e cabelos angelicais, ao movimento dos corpos e aos texteis retratados. Leonardo, um génio de todos os tempos que soube depurar diplomaticamente os mitos conservadores da sua época, constituindo o seu espólio uma porta aberta para o universo do homem que se encontrava 400 anos à frente da sua época, percepcionando-se nos seus estudos a ponte entre o sábio e o inquiridor do tempo , entre a introspecção dos grandes homens e a revelação dos grandes projectos de ficção.

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