Encontrei no “Grau Zero da Escrita” de Barthes uma dissertação sobre a escrita e o silêncio. O artigo respeita aos compromissos que um escritor poderá ter, ou não, relativamente a uma forma literária tradicional, fazendo a apologia que nenhuma forma de escrita, por mais inovadora que seja, permanecerá eternamente revolucionária. “Qualquer silêncio de forma aproxima-se, com alguma ingenuidade, da solidão, de uma inocência suicida”. Poderá o escritor criar uma escrita branca, livre de qualquer sujeição a uma ordem fixa de linguagem, qualquer coisa como um grau zero da escrita, um estilo amodal, singular? Barthes, refere essa possibilidade, mediante a utilização de uma escrita neutra, básica, afastada das línguas vivas, nomeadamente, da linguagem Literária, própriamente dita. Foi no “Estrangeiro” de Camus que se verificou pela primeira vez este estilo de forma ausente: “A escrita assume um estilo de forma negativo, em que os caracteres sociais ou míticos de uma linguagem são abolidos a favor de um estado neutro e inerte de forma...reencontrando a escrita neutra a condição primeira da arte clássica, a sua instrumentalidade”. Reflectindo sobre a teoria de Barthes, considerei que não deixa de ser reconciliador o facto de não me inserir em qualquer categoria de escritores ou de intelectuais e, mesmo assim, ter a audácia de me atrever a escrever, pouco, é certo, sem presunções de forma ou de estilo, neste blog. É que Barthes não poderia estar mais correcto na sua apreciação. Efectivamente, os silêncios de forma aproximam-se da solidão consubstanciando, muitas vezes, posturas que são inocências suicidas. A questão é que, para comprovar a fiabilidade da tese, haverá sempre um louco, no meio do cenário, disposto a morrer por aquilo em que acredita.
Sem comentários:
Enviar um comentário