Guy de Maupassant, um dos criadores do conto moderno, a par do russo Tchékhov, ganhou reconhecimento instantâneo com a publicação de Boule de Suif, em 1880. Entre os inúmeros contos que publicou na vida, muitos têm a loucura como tema. Outros, reúnem a loucura e o crime, tal como o conto que reli, esta noite, intitulado “Um Louco”.
Inicia-se com a morte de um juiz do Supremo Tribunal de Justiça, magistrado íntegro, cuja vida sem mácula era citada como exemplo. Jovens conselheiros e juízes inclinavam-se sobre a sua memória com uma vénia, em sinal de profundo respeito.
A sua vida tinha sido pautada pela perseguição aos criminosos e pela protecção aos fracos. Escroques e assassinos jamais tinham sido confrontados com tamanho inimigo. Era-lhe reconhecida a capacidade de ler, no fundo das almas, os pensamentos mais secretos demonstrando, com um breve passar de olhos, que rapidamente conseguia desvendar os segredos mais íntimos, os mistérios e as intenções dos suspeitos a ele levados. Ninguém era poupado ao seu instinto. A todos condenava, sem dó nem piedade, fazendo justiça e assim agradando ao povo. Morreu aos 82 anos, cercado de homenagens, lamentando todos a sua morte, lançando palavras tristes e flores brancas sobre o seu caixão. Passado o funeral, o seu escrivão, procedia a arrumações do espólio, quando descobre um diário que tem como título: Porquê?
Nos seus escritos particulares, íntimos, que ninguém adivinhou com um mero passar de olhos, o juiz descrevia, com a satisfação de um criminoso em série, as várias criaturas que tinha assassinado, relatando com o sadismo de um louco a violência e a crueldade que infligia às suas vítimas:
“Então peguei na tesoura, e cortei-lhe a garganta com três golpes, bem devagar. Ele abria a boca, tentava escapar-me, mas eu segurava-o, ah! Eu segurava-o – com a minha força teria conseguido segurar um bulldog enraivecido – e vi o sangue escorrer. Como é belo, vermelho, reluzente, claro, o sangue! Eu tinha vontade de bebê-lo. Molhei nele a ponta da minha língua! É bom! Mas tinha tão pouco sangue esse pobre passarinho! Não tive tempo de gozar aquela visão como gostaria. Deve ser fantástico ver sangrar um touro. E depois fiz como os assassinos, como os de verdade. Lavei a tesoura, lavei as minhas mãos; deitei fora a água e levei o corpo, o cadáver, e enterrei-o no jardim. Enfiei-o debaixo de um morangueiro. Nunca o encontrarão. Comerei todos os dias um morango daquele pé de morangueiro. Realmente, como se pode gozar a vida, quando se sabe!”
Inicia-se com a morte de um juiz do Supremo Tribunal de Justiça, magistrado íntegro, cuja vida sem mácula era citada como exemplo. Jovens conselheiros e juízes inclinavam-se sobre a sua memória com uma vénia, em sinal de profundo respeito.
A sua vida tinha sido pautada pela perseguição aos criminosos e pela protecção aos fracos. Escroques e assassinos jamais tinham sido confrontados com tamanho inimigo. Era-lhe reconhecida a capacidade de ler, no fundo das almas, os pensamentos mais secretos demonstrando, com um breve passar de olhos, que rapidamente conseguia desvendar os segredos mais íntimos, os mistérios e as intenções dos suspeitos a ele levados. Ninguém era poupado ao seu instinto. A todos condenava, sem dó nem piedade, fazendo justiça e assim agradando ao povo. Morreu aos 82 anos, cercado de homenagens, lamentando todos a sua morte, lançando palavras tristes e flores brancas sobre o seu caixão. Passado o funeral, o seu escrivão, procedia a arrumações do espólio, quando descobre um diário que tem como título: Porquê?
Nos seus escritos particulares, íntimos, que ninguém adivinhou com um mero passar de olhos, o juiz descrevia, com a satisfação de um criminoso em série, as várias criaturas que tinha assassinado, relatando com o sadismo de um louco a violência e a crueldade que infligia às suas vítimas:
“Então peguei na tesoura, e cortei-lhe a garganta com três golpes, bem devagar. Ele abria a boca, tentava escapar-me, mas eu segurava-o, ah! Eu segurava-o – com a minha força teria conseguido segurar um bulldog enraivecido – e vi o sangue escorrer. Como é belo, vermelho, reluzente, claro, o sangue! Eu tinha vontade de bebê-lo. Molhei nele a ponta da minha língua! É bom! Mas tinha tão pouco sangue esse pobre passarinho! Não tive tempo de gozar aquela visão como gostaria. Deve ser fantástico ver sangrar um touro. E depois fiz como os assassinos, como os de verdade. Lavei a tesoura, lavei as minhas mãos; deitei fora a água e levei o corpo, o cadáver, e enterrei-o no jardim. Enfiei-o debaixo de um morangueiro. Nunca o encontrarão. Comerei todos os dias um morango daquele pé de morangueiro. Realmente, como se pode gozar a vida, quando se sabe!”
O restante manuscrito continha ainda muitas páginas com outros crimes e condenações de inocentes acusados por crimes levados a cabo pelas próprias mãos do juíz. Os médicos legistas, a quem foi confiado, afirmaram existirem no mundo muitos loucos ignorados, tão hábeis e tão temíveis quanto este monstruoso demente.
No próximo post irei falar sobre violação da privacidade, da intimidade da vida privada e de outras histórias de crime e loucura, pois é bom relembrar: Nem todos os que prevaricam chegam alguma vez a ser julgados perante a justiça e, por cá, temos vários exemplos disso.
Sem comentários:
Enviar um comentário