15.6.10

Jacques Cousteau e as 20.000 léguas submarinas

Lembro-me do “opening shot” que começava com 5 mergulhadores a descerem a pique para as profundezas do oceano. Garrafas de oxigénio amarelas, barbatanas gigantes e tochas fascinantes que ardiam dentro do mar soltando grandes bolhas que enchiam o ecrãn do televisor. Era o Mundo Secreto de Jacques Cousteau que passou a ser também um pouco o meu mundo. Aos fins de semana alguém gritava da sala: “Já começouuu!” e eu corria para a frente da televisão para não perder um segundo do documentário que me trazia o mar para dentro de casa em ondas que me rodeavam de cardumes de peixes coloridos, anémonas e algas gigantes. Polvos, búzios, tubarões, mantas, baleias, tesouros perdidos, e aquele barco Calypso, com nome de deusa do mar, com um capitão na proa que observava a linha do horizonte procurando novas aventuras que se escondiam para lá do pôr do sol. Foi Jacques Cousteau o responsável pela minha grande paixão pelos temas do mar. A ele devo a capacidade de mergulhar nas profundezas e a tomada de consciência para as causas ecológicas e para a defesa de um património genético que apresenta, actualmente, índices alarmantes a nível da taxa média de extinção das espécies. A semana em que se comemorou o Dia Mundial dos Oceanos (8/6) e o 100º aniversário do nascimento de Cousteau (11/6), ficou ensombrada pelo maior derrame de crude de todos os tempos. Segundo as novas projecções o derrame do Golfo do México irá superar as três maiores catástrofes ecológicas relacionadas com o crude: o poço de petróleo IXTOC I, situado na Baía de Campeche no México, em 79, o Exxon Valdez, em 89 no Alaska e os incêndios dos poços petrolíferos do Koweit, ocorridos durante a Guerra do Golfo. Documentação, hoje divulgada, revela que as vistorias, levadas a cabo por organizações ambientalistas, classificavam a estrutura petrolífera, onde ocorreu o acidente, como "um pesadelo" com sérios riscos de "poder gerar em breve uma catástrofe". As piores previsões confirmaram-se. Contra os montantes derramados, inicialmente avançados pela BP, na ordem dos 5.000 barris/dia, foram agora estimados, por fontes oficiais, cerca de 40.000 barris/dia. A manterem-se as projecções actuais, as consequências, a nível do impacto ambiental, serão piores que as do Exxon Valdez que, 20 anos passados, permanecem entranhadas no fundo do mar e nas costas do Alaska, assistindo o mundo inteiro aos esquemas esquivos e de desresponsabilização da ExxonMobile. Jean-Michel Cousteau, numa entrevista efectuada pelo 100º aniversário do nascimento do seu pai, declarou que : "Jacques Cousteau "would be heartbroken" at our seas today". Passando os olhos pelos sites ambientalistas sucedem-se as referências aos acidentes ecológicos, seja sob a forma de derrames de crude, seja sob o espectro dos subornos efectuados pelo Japão com o intuito de angariar apoios para a manutenção das suas quotas de caça à baleia. Nas cimeiras internacionais, permanece a dificuldade em sobrepor interesses comuns aos interesses económicos de cada país, negligenciando-se a prevenção das alterações climáticas e a protecção da biodiversidade. Posto isto, valham-nos as recentes descobertas de 9 espécies de peixes com membros anteriores, ou as novas propostas do ministro dos negócios estrangeiros da Dinamarca, Lene Espersen, que visam interditar, pelo período de 10 anos, a caça à baleia nas águas territoriais das Ilhas Faroe. Jacques Cousteau, o capitão visionário, o homem que personifica um legado em defesa do meio ambiente, deixou-nos memórias fabulosas que merecem aqui ser recordadas, no ano em que se comemora o 100º aniversário do seu nascimento.


3 comentários:

João Videira Santos disse...

O comentario nunca terá a dimensão do quanto formativo é o que se lê por aqui...

Parabéns!

(quem sabe e está atento, aborda questões tão importantes quanto esta e outras)

Manifesto Surrealista disse...

Caro João,
Obrigada por estar sempre atento. É um estímulo considerável saber que alguém passa por aqui. Um abraço
Cristina

HELENA AFONSO disse...

OLÁ CRISTINA, Costeau é das minhas personalidades preferidas, admiro o seu modo de vida, a sua filosofia, o seu saber,etc..etc....GRANDE HOMEM, GRANDE FIGURA!
Foi através dos documentários editados por ele que inicei a minha paixão pelo mundo submarino......fui às Maldivas para nadar com os peixes, ver os corais e ..... repirar através dum tubo de borracha o mundo divino do fundo do mar! Lá onde todos os habitantes são iguais, grandes, pequenos, enormes, de todas as cores e feitios, a fauna marítima em toda a sua força e beleza é contagiante, electrizante, naquele mundo, aqui bem expressos por si, onde não são precisas as palavras, só os olhos nos seguem, só eles nos falam......ADORO AQUELE MUNDO, obrigada Cristina por me recordar os momentos maravilhosos que ali passei!
Beijinho, HELENA