6.11.09

Labirintos

Borges fala-nos do processo pictórico de inserir um quadro dentro de outro quadro, ou seja, quando uma ficção vive dentro de outra ficção. Exemplos. Cervantes incluiu no "Dom Quixote" uma novela; Lúcio Apuleio intercalou no livro "O Asno de Ouro" a fábula de Cupido e Psique. Flann O'Brien incluiu no "At the Swim-Two-Birds" a história de um estudante de Dublin que escreve um romance sobre um taberneiro de Dublin. Os dois planos - o primeiro ficcional e o segundo - não se misturam, apesar do labirinto verbal a que somos sujeitos durante a leitura do enredo. Sabemos, antecipadamente, que ambos os planos são parte integrante de um todo ficcional unificado, onde não se produz qualquer confusão. Ao pensar nisto, constato que se podem premeditar ficções que não jogam com nenhum destes planos ficcionais. E aí chegamos a um outro plano. O real. É interessante testar ficções premeditadas, em situações da vida real. Leva-nos isso aos labirintos de Creta. Onde se jogam emoções. É este o labirinto de Creta, cujo centro é um enorme Minotauro, aquele que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações. E tiram-se notas. E é este o labirinto onde Maria Kodama se perdeu. E depois vende-se. E o labirinto de Creta continua com um enorme Minotauro no centro, tal qual Dante imaginou. Onde eu e os outros nos perdemos naquela manhã e continuamos perdidos no tempo, esse outro labirinto. Labirintos de pedra.

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