7.7.11

O sonho de Josef K.

“O dia estava lindo e K. decidiu ir dar um passeio. Mas, mal tinha dado dois passos, já estava no cemitério.” É assim que começa o sonho de Josef K., um conto de Kafka que nos recorda a linha ténue entre a vida e a morte. Impelido por uma corrente de ar, K. é atraído em direcção a uma campa num cemitério e nem as bandeiras que lhe tapavam a visão, nem os panos a tremular que batiam com força no porta bandeiras o desviaram desse caminho. Lembra-se de conjecturar se não haveria festa do outro lado, para onde os seus olhos o levavam. É nesse momento que tropeça numa elevação de terra que deixava a descoberto uma cova funda. Por perto, alguém desenhava letras perfeitas numa pedra tumular. Numa troca de olhares, Josef K. olha perplexo para o desenhador de letras, instalando-se um mau estar ao mesmo tempo que o sino da igreja repicava inoportunamente. K., desolado, chora convulsivamente ao aperceber-se do seu destino enquanto o artista tenta acalmá-lo sem sucesso, retomando em seguida a sua caligrafia. O primeiro traço que fez foi para K. um estranho alívio, mas era óbvio que o artista o tinha feito com enormes reticências. A letra já não era tão bonita, parecia já não ser tão dourada, os riscos eram ténues e irregulares, e um J. comprido foi esculpido na pedra. K. percebe que estava tudo preparado. Empurrado por uma corrente de ar cai para dentro da cova de onde, com a cabeça soerguida, não consegue evitar ser engolido pelas profundezas impenetráveis do seu destino, ao mesmo tempo que o desenhador de letras acabava de pintar J.K. Quando acordou, Josef ficou deliciado com o que acabara de ver.

1 comentário:

Olga disse...

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