7.6.11

Eremitismo

Li, há dias, num blog, uma das “Cartas a um jovem Poeta” de Rainer Maria Rilke. Falava sobre um eremitismo forçado e dava como exemplo o facto de uma pessoa ser colocada, sózinha, sem preparo ou transição no topo de uma montanha. O que sentiria? Rilke fala numa insegurança imensurável, num abandono inominável, no esforço em obliterar o cérebro de modo a dar um sentido ao presente e a validar os seus sentidos. A dimensão das distâncias adquire um novo sentido com a solidão não sendo de estranhar aquilo a que Rilke chama de sensações estranhas e fantasias quase insuportáveis devendo o eremita forçado aceitar o seu fatalismo e a nova realidade em toda a sua imensidão. Lembrei-me de Andrómeda amarrada a um rochedo ermo, oferecida pelo pai em sacrifício a um monstro, de modo a reconquistar a paz do seu país e de Prometeu, titã imortal, responsável por roubar o fogo de Zeus e o entregar aos homens, remetido para o cume de uma montanha, amarrado a uma rocha, condenado a ter o fígado, diariamente, devorado por uma águia, regenerando-se, até à eternidade. Mas, haverá que obstar aos dramatismos dos isolamentos. Subvertendo os recantos onde rodopia o vento. Considerar que a melodia dos solitários é um privilégio apenas audível àqueles que convolam o isolamento numa oportunidade única de se retirarem para dentro de si mesmos. Talvez um dos melhores exemplos que temos na literatura seja Zaratustra. Refugiado, durante 10 anos, na sua gruta de montanha, cedo se apercebe que é detentor de uma conjuntura rara e feliz. Essa, que raramente nos permite desviar o olhar do transitório que nos rodeia para nos concentrarmos no eterno de nós próprios, parecendo os momentos de solidão anteriores meros erros melancólicos de percurso.
Prometheus 1618 - Peter Paul Rubens - Museum of Arts - Philadelphia

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