14.6.11

Barthes - Réquichot e o seu Corpo

A poesia ou a pintura são, sem dúvida,  algumas das formas plásticas de representação do nosso eco interior. Lembrei-me, sobre este tema, da abordagem que Barthes faz no seu livro “O óbvio e o obtuso”, sobre o pintor, prematuramente desaparecido, Bérnard Réquichot, (1929-1961). O nome, praticamente desconhecido no mundo da arte, com pouca informação disponivel sobre o seu percurso artistico, bem como sobre a sua biografia, suscitou em Barthes a curiosidade necessária para o idolatrar elaborando um ensaio denominado “Réquichot e o seu Corpo”. Barthes, encontra na obra de Réquichot a forma plástica perfeita no que toca à expressão simbólica do nossos ecos interiores. Segundo Barthes, Réquichot representa na tela uma postura que denomina de “meta-mental”, aquela onde o seu corpo interior é projectado como um “ruído”, mistura de emoções violentas, herméticas, claustrofóbicas onde se degladiam o branco da tela e o negro dos olhos fechados, consubstanciando toda a obra alguma perversa premonição do fim trágico que o pintor viria a ter. Com uma evolução que atravessa a inspiração religiosa e o pós-cubismo, Réquichot viria a radicar a sua arte no experimentalismo das colagens e nos aglomerados de pintura, traduzidos em relicários de madeira, onde proliferavam as cores intensas e o sentimento claustrofóbico da sua angústia interior. Durante todo o seu curto percurso artístico é patente o isolamento a que se devotou, evitando a comunicação, ignorando as opiniões criticas, o mercado de arte ou qualquer tipo de exposição. Réquichot, o pintor, também poeta, artista inquieto, tenso, que expõe na tela a catarse das suas vibrações interiores, viria a procurar refúgio naquilo a que Camus denominou como o único problema sério da filosofia. Aquele onde os movimentos subtis do espírito reconhecem a ausência de qualquer razão profunda de viver, o carácter insensato da agitação quotidiana e a inutilidade do sofrimento. Réquichot, viria a suicidar-se com 32 anos, no dia 4 de dezembro de 1961, na sequência da inauguração da sua primeira exposição em Paris.
site biográfico sobre Bérnard Réquichot, e um trabalho excelente sobre o ensaio de Barthes, elaborado pelo Prof. Latuf Isaias Mucci.
Obra : Maison du Manège endormi - Centre George Pompidou - Paris

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