9.5.11

Caryl Chessman - 2455 - San Quentin

Foi na sequência de um programa de televisão que contava o abuso sexual de Ruben Patterson, jogador de basketball dos “Seattle Supersonic”, à babysitter dos seus filhos, que me lembrei de Caryl Chessman. Em meados de 2001, Ruben Patterson, acusado de forçar a babysitter a praticar sexo oral, seria condenado a 15 dias de prisão domiciliária e à suspensão nos próximos 5 jogos da “National Basketball Association”. Em Agosto de 2001, com alguma ironia, diria aos media, no momento da assinatura do seu novo contrato de $33.8 milhões de dólares, com os “Portland Trail Blazers”, “I’m not a rapist, I’m a great guy”.
Recordo-me de ver os quatro livros de Caryl Chessman alinhados na estante da casa dos meus pais. Desde pequena, sempre me despertaram curiosidade com as capas coloridas e as folhas grosseiras típicas das publicações dos anos 60 da Europa-America. Recomendavam-me que eram livros para ler só quando compreendesse que por vezes a justiça nem sempre faz corresponder a determinado crime a pena mais justa. Que nessas expectativas também há erros e falhas graves. Que a história judicial, desde os seus primórdios, escontra-se repleta de casos onde o apuramento da verdade foi inquinada por interesses politicos ou de classe. Pela fantasia em criar exemplos mediáticos. Pela recusa em retroceder. Pela dificuldade em assumir falhas na apreciação das provas, ofuscando, irremediavelmente, o fim imediato ou pedagógico a que a justiça aspira.      
Corria o ano de 1948 e Caryl Chessman era um marginal de 27 anos, com cadastro, que se dedicava a crimes menores. Foi preso em Los Angeles e acusado de ser o “Homem da Lanterna Vermelha”, um assaltante que fazendo-se passar por um agente de autoridade, seguia as suas vitimas de carro, intimidando-as a parar. Depois de encostarem à berma e abrirem o vidro, apontava-lhes uma lanterna com uma luz encarnada para o rosto, ofuscando-as, seguindo-se o furto e, no caso de algumas jovens, a violação. Seria Chessman o “homem da lanterna vermelha”? O tribunal recusou-se sempre a reapreciar as provas e a proceder a um novo julgamento, apesar das declarações conclusivas das vítimas dos crimes que descreveram o perfil do autor com particularidades físicas que não coincidiam com Chessman. Mesmo assim, Chessman seria condenado pelo crime de furto, rapto e violação de uma jovem de 17 anos, sendo sentenciado a duas penas de morte. Parte da controvérsia que envolveu o caso de Chessman reconduz-se ao modo como a pena de morte foi aplicada.
Viviam-se, no Estado da Califórnia, tempos agitados com a “Little Lindberg Law” e todos os crimes que envolvessem violações à integridade física e rapto, eram susceptíveis de ser punidos com a pena capital.
O facto de Chessman ter, alegadamente, arrastado a jovem, alguns metros, para fora do carro, para a obrigar a praticar sexo oral, foi considerado rapto, promovendo-o à condenação à morte na câmara de gás de San Quentin. Recorde-se, por coincidência, o mesmo crime que, em 2001, praticaria Ruben Patterson, com a sua babysitter, e que lhe valeram 15 dias de prisão domiciliária. Razões haverá aqui para questionar sobre quais foram, em ambos os casos, os princípios de equidade e imparcialidade subjacentes na melhor aplicação da justiça.
Os doze anos que se seguiriam à condenação de Chessman, foram passados na cela 2455 do Corredor da Morte, na prisão de San Quentin. Chessman condenado a morrer na pequena salinha verde, por inalação de gás de cianeto, escreveu quatro livros, como um acto de contrição, como expiação das suas culpas na sociedade, negando até ao último minuto de vida que era o “homem da lanterna vermelha”. O homem que entendemos na sua obra é a de um ser humano diferente, que em nada se identifica com o criminoso condenado por violação. Dotado de uma inteligência vigorosa Chessman escreve exaustivamente em sua defesa, recusando defensores oficiosos, cépticos relativamente à sua versão dos factos. Nos seus livros, Chessman revela méritos literários, conquista o público e consegue mover uma opinião internacional em defesa da sua causa. Com honestidade, assume a verdadeira história desordenada da sua vida, expondo a falha das opções tomadas, os erros cometidos e propondo aos criminologistas o estudo da natureza do crime e modos de o erradicar. Caryl Chessman passaria mais de um terço dos seus trinta e nove anos detido. Nestes seus últimos 12 anos de vida Chessman dirigiu, de modo próprio, uma contestação brilhante das condenações que lhe foram impostas por crimes de que se afirmou sempre inocente. Viria a ser executado na câmara de gás de San Quintin, no dia 2 de Maio de 1960, após oito adiamentos sucessivos da sua execução e de, por segundos, não ter chegado a tempo, um último telefonema de apelação.

3 comentários:

João Videira Santos disse...

Era muito jovem, mas lembro bem este caso. Tornou-se escritor na prisão escrevendo alguns livros. Creio que quatro. Inclusivé, redigiu a sua própria defesa, recusando advogado nos primeiros anos de prisão. Os sucessivos adiamentos para que se cumprisse a sua condenação à morte, acabaram por suscitar alguma onda de simpatia nos Estados Unidos para que a sua condenação fosse "transformada" em prisão perpétua.

Unknown disse...

Eu tinha 11 anos e nunca esqueci do momento em que colocaram as pastilhas de gás, segundos antes do telefonema que adiaria sua morte. Aos 27 anos de idade, encontrei por acaso seu livro e comprei 2455 cela do corredor da morte. Perdi o livro em uma mudança de cidade. Até hoje procuro novamente esse livro. Lembro que chorei na hora em que foi morto por que eu acreditava que fosse inocente e ainda acredito.

Unknown disse...

tenho o *2455 CELA da MORTE*livro q pertencia ao meu falecido avo,(ja com as folhas amarelas e a capa um tanto ou quanto danificada.Ja o li e guardo-o com .muito carinho e cuidado,por ser de quem era e por ser uma excelente obra.Assim como este tambem tenho o( O GAROTO ERA UM ASSASSINO)