18.3.10

Israel - Is Peace out of reach?

Quando no mês passado ouvi a notícia que os ministros dos Assuntos Exteriores da França, B. Kouchner, e da Espanha, Miguel Moratinos, pretendiam em uníssono, e no prazo de 18 meses, promover o reconhecimento de um Estado “hipotético” palestiniano, questionei-me qual seria a utilidade prática desta solução. Concorre para as minhas dúvidas o facto desse reconhecimento pretender ser efectuado, independentemente das fronteiras entre Israel e a Palestina estarem previamente definidas, visando-se, tão somente, a consagração de algumas fundações económicas, legais e de segurança que, hipoteticamente, num futuro estado palestiniano possam vir a vigorar. Com esse acto pretende-se actuar, junto da comunidade internacional, com uma eficácia persuasiva. Julgo que esta situação será semelhante, grosso modo, à elaboração de uma escritura fictícia sobre um imóvel vizinho, de permilagem indefinida, tentando, posteriormente, com esse papel, ferido de nulidade insanável, forçar o visado a uma transmissão compulsiva da propriedade. É no mínimo ridículo. A pretensão, a meu ver, ferida de inoportunidade grave, terá certamente subjacente o facto de a Espanha se encontrar na Presidência da U.E. o que., a imaginar o retrato de família, teríamos uma repetição de Camp David, de 79, desta vez com protagonistas diferentes, e, quem sabe, princesas a correrem pelos jardins da Zarzuela com uns “Porque no te calas?” sorridentes pelo meio, enchendo de louros uma Espanha monárquica envaidecida.Só que a ideia espanhola não vai nunca levar a lado nenhum podendo, inclusivamente, funcionar como um contra-vapor para o Governo Israelita. Quem esteve, alguma vez, em Israel sabe que é, na prática, impossível atender à reivindicação palestiniana, ou seja, a reposição das fronteiras correspondentes ao ano de 1967 (veja-se mapa 3 em acima). Não esqueçamos que foi nesta data, que os tanques israelitas entraram no deserto do Sinai e lançaram um ataque surpresa, conquistando os montes Golan à Síria, a Faixa de Gaza, o Sinai do Egipto (devolvido em 79, após os acordos de Camp David), a Cijordânia tomada à Jordânia e o último reduto de esperança para a capital palestiniana, a cidade de Jerusalém. Perante este quadro, adicionando o crescendo de territórios palestinianos ocupados por colonos ortodoxos, nem sequer percebo aonde é que os espanhóis pretendem chegar. Foi por isso, com alguma satisfação que ouvi ontem o Presidente Brasileiro proferir declarações que, muito embora possam prolongar um registo lírico e na realidade não concretizem nada, pelo menos tiveram a faculdade de posicionar publicamente o Brasil naquele grupo de países que defende a criação de um Estado Palestiniano com o inerente derrube do muro da Cijordânia. É, pelo menos, uma posição que não pretende persuadir. Pretenderá antes apelar a toda uma comunidade internacional que, em uníssono, comece a construir a casa pelas fundações e não pelo telhado. A solução pretendida pelos palestinianos será, a meu ver, impossível de concretizar. Os israelitas nunca irão recuar até às fronteiras de 67.
Qual será o futuro? Na minha modesta opinião, num país onde se pôs em prática os princípios básicos preconizados na Animal Farm, de George Orwell: “Todos os cidadãos são iguais mas há uns mais iguais do que outros” antevejo que a crise surgirá não devido a pressões da comunidade internacional mas antes devido às diferenças que daqui a uns 20 a 30 anos se farão sentir na população do país. Consultei na net os índices de previsão demográfica, para o próximo século, em Israel, e os valores apontam para um decréscimo da população judia, nos próximos 10 anos, de 66% para 60%, caso permaneçam os mesmos índices da taxa de natalidade palestiniana. Prevê-se, ainda, que no ano de 2040 esse número se equipare passando a partir dessa altura os palestinianos a serem em maior número, o que promoverá uma bomba relógio demográfica neste país, havendo necessariamente que encontrar uma solução pacífica. O mês de Março foi profícuo em intenções. O vice-P dos Estados Unidos, Joe Biden, manifestou-se igualmente pelo constituição de um estado palestiniano. É curioso, cada vez que ouço estas notícias a primeira coisa que me vem à memória são os montes Golan. É que vi-os ao anoitecer. Localizados na fronteira com a Síria eram, à data da sua ocupação, uns montes tristes e desérticos, oferecendo apenas inquestionáveis vantagens estratégico-militares. Hoje, ao observá-los ao longe, ao anoitecer, guardo a imagem de uma verdadeira árvore de Natal iluminada com milhares de luzes de colonatos judeus que, acredito, plenamente, nunca aceitarão a desocupação sem o recurso a uma sangrenta guerra civil. À imagem do que aqui referi, julgo que este filme, com a qualidade a que a CBS já nos habituou, falará por si. Oxalá me engane, nas minhas previsões de paz.

Fontes:
geography.about.com; al jazeera; NYTimes; wikipedia; http://www.zionism-israel.com/hdoc/rural_palestine.htm

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