29.12.09

A Guerra Santa

Na I Cruzada, Pedro (1053-1115) mostra o caminho de Jerusalém aos Cruzados - Iluminura Francesa, 1270
Este meu gosto pelas viagens fez-me recordar a viagem extra terrena medieval que Dante “efectuou”, pela mão de Virgílio, por volta do ano da Graça de 1300. Na Divina Comédia, Jerusalém, lugar da Crucificação de Cristo, é considerada o centro do Universo e do hemisfério da Terra. Isto porque, convém não esquecer, Copérnico e as teorias heliocêntricas só viriam mais tarde, por volta de 1500, daí que a obra medieval de Dante se desenhe nos termos das teorias geocêntricas consolidadas por Ptolomeu que, por casualidade ou não, reparo que coincidem com os primeiros 100 anos do Cristianismo. Na cosmologia de Dante, a Terra era o centro do Universo e do Inferno. Pela órbita lunar, dividia-se o Universo em duas esferas, separando-se assim a Terra dos Céus. A divisão, centrada em Jerusalém, continha uma profunda depressão, em forma de cone, provocada pela queda violenta do Anjo Negro vindo dos céus, cravando-se no fundo contra o abismo infernal. Dante constrói ainda a sua visão do Paraíso, localizado nas antípodas do Inferno. Pelo meio, Jerusalém ou as portas do Inferno. Ora, é precisamente esta visão de Dante de Jerusalém que me suscita curiosidade. Dante viveu numa época medieval, subsequente a uma turbulenta e sangrenta aposta cristã - as Cruzadas -, onde se prometia a redenção das almas àqueles que morressem na Guerra Santa. A primeira Cruzada, ocorrida apenas 200 anos antes de Dante ter escrito a Divina Comédia, promoveu a reconquista do Reino de Jerusalém. A cidade foi violentamente atacada e destruída pelos cruzados. Os seus habitantes muçulmanos foram todos mortos, sem quaisquer escrúpulos, mesmo aqueles que se tinham refugiado na grande Mesquita sagrada, a Al-Aqsa. De regresso, apenas há 2 semanas de Jerusalém, encontro alguns silogismos entre os tempos actuais e a porta para o Inferno de Dante. Às mãos dos judeus, apercebi-me que os palestinianos sofrem as atrocidades de um holocausto camuflado e sem tréguas. Uma cruzada sem comiseração pelos seus bens e pelo bem estar das suas famílias. Cobarde nas suas pretensões, pois o objectivo final é a erradicação palestiniana de todos os territórios israelitas. Os palestinianos estão impedidos de se deslocarem livremente, edificarem as suas casas, cultivarem ou gerirem as suas reservas de água. Pelo meio, ficam os despojos de uma luta inglória. Uma contenda que facilmente seria gerível em Paz. Seria apenas necessário bom senso, tal como para tudo na vida.

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