Ontem, revi o fabuloso filme de Bennett Miller, "Capote", com a interpretação magistral de Philip Seymour Hoffman que lhe valeu, e bem, o Óscar. O filme traça-nos o perfil de um escritor, com uma fraqueza irresistível pelo álcool, pela fama, com uma necessidade obsessiva de protagonismo junto do público e, sempre que possível, dos media. O filme revela-nos igualmente o carácter de um escritor dividido entre as suas homéricas ambições literárias e a lealdade a uma amizade inconveniente que estabeleceu com Perry Smith, seu confidente e homicida dos Clutter. A produção do livro "In Cool Blood", é resultado de uma saga obsessiva que tomou conta da vida de Capote, durante oito meses, e que envolveu investigações detalhadas no local do crime, junto da população de Holcomb e aproximações à polícia local. Toda estas diligências de Capote traduziram-se na elaboração de mais de 8.000 páginas manuscritas, as quais viriam a constituir o suporte inicial para o seu famoso livro. Foi a partir da pequena notícia publicada no "New York Times" que Truman Capote se interessou pela história macabra que envolvia o assassinato de Herbert Clutter - um fazendeiro rico de Holcomb, Kansas -, da sua mulher Bonnie e dos seus dois filhos mais novos, Nancy e Kenyon, de 16 e 15 anos, respectivamente. Após a captura dos dois responsáveis pelos crimes, Smith e Hickock, Capote, com a conivência da polícia, estendeu a sua investigação pessoal ao perfil psicológico dos criminosos. Segundo se especula, Capote teria ficado fascinado com o carácter de Smith, referindo-se a ele, nas suas notas, como "uma pessoa sensível que procurou avocar a si a responsabilidade dos quatro crimes, de modo a desculpabilizar Hickcock". Especulações veiculam, ainda hoje, a existência de um envolvimento emocional entre ambos. Os crimes perpetrados, inicialmente sem justificação aparente, ficariam parcialmente esclarecidos quando, mais tarde, se apurou que o móbil teria tido origem na suspeita, por parte dos homicidas, de uma avultada quantia de dinheiro escondida na quinta dos Cuttler. Investigações posteriores apurariam que esse dinheiro nunca existiu. Capote só terminaria o seu livro, após as execuções de Smith e Hickock, às quais assistiu.
Encontrei no You Tube duas entrevistas a Truman Capote. Deste registo histórico constato, ao comparar os maneirismos de Capote com a interpretação fabulosa de Phillip S. Hoffman, que o actor foi um justo merecedor do Óscar que recebeu. Sabemos, também, que este filme foi um êxito de plateia e continua certamente a ser, a julgar pela audiência que se desloca às salas de cinema, sempre que o filme é projectado.
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