Ameba - Organismo unicelular
A "Teoria da Selecção Natural", proposta por Darwin, teve um espelho social que, normalmente, não é abordado. Darwin escreveu uma obra intitulada "A Origem do Homem" na qual aplicou os mesmos critérios da "Origem das Espécies" só que, desta vez, em relação às relações sociais. Este livro, estaria na génese de várias correntes filosóficas, divulgadas em meados do séc: XX, em ambiente pós Segunda Guerra Mundial, onde estavam latentes as discriminações e os atentados à integridade física e moral infligidos a boa parte da população europeia. Uma dessas teorias, - iniciada por Herbert Spencer, contemporâneo de Darwin -, viria, nos anos 40, a ser desenvolvida e denominada por Richard Hopstadter, como "Darwinismo Social". Tem subjacente a ideia de que os grupos e as sociedades evoluem através do conflito e da competição. E, acrescenta: "o ser humano é dotado de determinadas características biológicas e sociais que determinam a superioridade de uma pessoa em relação a outra. O conflito e a selecção natural, dos mais aptos, são condições da progressão social. Trata-se de aplicar ao mundo social os princípios de luta pela vida e pela sobrevivência dos melhores, das sociedades animais, defendidos pela corrente evolucionista". Quando li os princípios que esta tese preconiza lembrei-me, imediatamente, de Hannah Arendt e a exposição que faz nas "Origens do Totalitarismo". O argumento da selecção natural, aplicada às sociedades, esteve na génese do Holocausto nazi. A selecção natural não ocorre de acordo com as regras da liberdade e da dignidade individual, sendo curtos os passos a percorrer até atingirmos um quadro de ideologias totalitárias, com banalização da manipulação de massas, segregação de alguns e crescente acriticismo individual, face à mensagem do poder. Prosseguindo, incondicionalmente, os princípios da dignidade humana, da igualdade de oportunidades e da liberdade individual, quando leio estas teorias, que me sugerem a ofuscação de alguns direitos individuais, fico surpreendentemente acometida pelo mesmo espírito pré-histórico de sobrevivência das amebas - uma das primeiras formas de vida unicelulares eucariotas, sobreviventes incondicionais do verdadeiro processo de selecção natural, organismos primários que resistiram a holocaustos e intempéries até aos nossos dias, alimentando-se apenas de pequenos protozoários, algas microscópicas e protoplasma morto. Tudo deglutido numa fantástica fagocitose. As amebas sim, reconheço que foram dos primeiros seres que sobreviveram à selecção natural da origem das espécies.
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