16.9.09

Filippo Lippi

Madonna com dois anjos - 1467-75
Este quadro de Frei Filippo Lippi (1406-1469) é famoso, talvez não tanto devido às técnicas inovadoras renascentistas que caracterizam esta obra, mas mais pela história, ou lenda, que é relatada. Filippo Lippi entrou com oito anos de idade para um convento de Carmelitas, amadurecendo aí as técnicas de pintura da renascença florentina. Tornou-se frade, nesse convento, mas viria a apaixonar-se perdidamente por uma freira noviça, Lucrecia Butti. Ambos fugiram do convento e passaram a viver em união de facto até ao final das suas vidas. Tiveram dois filhos, tendo um deles seguido as pisadas do pai, tornando-se um pintor reconhecido do final de quatrocentos, de seu nome, Filippino Lippi. O grupo formado por Frei Lippi tornar-se-ía famoso na era da pintura renascentista, tendo Botticelli sido seu assistente no estúdio que deteve em Prado, Itália. O quadro "Madonna com dois anjos" é objecto de grande interesse nas Galerias degli Uffizi, em Florença, pois, conta a lenda que a Madonna retratada é, nem mais nem menos, o grande amor do pintor, a noviça Lucrecia Butti.
O determinante Concílio de Trento (1545-1563) foi, a meu ver, uma oportunidade perdida pela Igreja Católica, apesar dos inúmeros instrumentos de actualização que adoptou. Fundamentalmente, este Concílio visou a demarcação definitiva da Igreja Protestante e a reformulação da Igreja medieval, falhando, contudo, categoricamente, quando apela à essencialidade da Inquisição e aos procedimentos disciplinares a ela associados. Teria sido o momento propício para reintroduzir o casamento dos membros do clero. Este caso de Filippo Lippi é paradigmático da incoerência que constitui o celibato entre a classe clerical. O casamento de sacerdotes foi proibido por Gregório VII, no ano de 1074. Até aí era naturalmente admissível. Surpreendentemente, continuamos no séc: XXI com a mesma filosofia arcaica e contra-natura que presidiu à decisão de 1074. Para quando uma mudança?

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