2.11.09

República Checa - Thierenstadt

Praga - Sinagoga Pinkas
Entrei na Sinagoga e mergulhei no mais profundo silêncio. Nas paredes estavam gravados os nomes de homens, mulheres, crianças. Milhares de nomes. Nuvens de nomes. 77 297 nomes. Judeus da Boémia e da Morávia que morreram em Auschwitz. Nomes que se perdiam uns nos outros, todos em fila. Onde o último apelido se confundia, logo de seguida, com o primeiro nome do outro. A persuasão de que a vida tem sempre uma finalidade, pareceu-me, ali, uma máxima absolutamente frustrada. Não consegui ajustar-me às palavras de Primo Levi quando refere que nenhuma experiência humana é privada de sentido e indigna de ser analisada. O que é que podia ser analisado ali se todos foram encaminhados de Thierenstadt para o crematório de Auschwitz?
Thierenstadt foi um guetto intermédio. Intermédio entre a vida e a morte. Serviu finalidades várias à máquina nazi. Pretendia ser um campo exemplar. Por aqui passaram mais de 145 mil judeus, dos quais apenas 20 mil sobreviveram. Foi aqui que uma delegação da Cruz Vermelha foi iludida com uma intensa actividade cultural. Pequenas orquestras de câmara ao vivo, pinturas, exposições. Efectivamente, desenrolaram-se intensas actividade lúdicas em Thierenstadt. Entre as levas de comboios. Que saíam, periodicamente, em direcção a Auschwitz.
Contudo, o que mais me impressionou foi uma exposição que vi no primeiro andar da sinagoga. Ao cimo das escadas, deparei-me com milhares de desenhos. Milhares de emoções de crianças plasmadas a preto e branco. No guetto exemplar, instituiu-se um espaço lúdico onde as crianças eram entusiasmadas a desenhar o que viam, o que sentiam, antes de embarcarem para o crematório de Auschwitz. As crianças de Thierenstadt foram uma espécie de cobaias de laboratório. Espectros resignados sem provir. Ambiguidades da causa. Embora sem qualquer valor prático, as crianças, contribuíram para a concretização de um dos objectivos da máquina de Thierenstadt: registar, para o futuro, o reflexo da alma dos que por ali passavam. A julgar pelos desenhos, questiono-me se as crianças ainda a tinham. Fotogr: CRV

Sem comentários: