O passado é feito de imagens loucas
por detrás dos meus olhos.
O caos da mulher. Braços
que rebentam do chão,
por detrás dos meus olhos.
O caos da mulher. Braços
que rebentam do chão,
peles humanas espalhadas,
bocados de gente flutuante
que ondula ao sabor do vento. Ombros,
mãos e corpos calcinados.
Sobreviventes saem das pedras queimadas,
pessoas pensativas que agarram no sofrimento,
fresco, como o barro que se quer modelar
e não se consegue.
Amassa-se a passagem das almas,
numa panorâmica actual.
Os turistas tiram fotografias.
Registos do contraste de calor
nas figuras queimadas. Há abraços perfeitos
nesse deserto novo, com cores diferentes,
vidas diferentes.
E a mulher olha.
Há uma relação diferente com
os outros desertos anteriores.
A ilusão é perfeita. Estendem-se
braços como o estuário de um rio
na esperança de agarrar os peixes
que saltam por entre as estações.
Fogem todos, desaparece tudo.
Nada fica.
A sombra, os discursos, as gentes,
os homens feitos de barro
e o horror de nada compreender de uma cidade
que era uma outra ordem do mundo.
Ficam as mãos, inúteis,
nesta cave, pequena, construída
como uma capital do silêncio.
Há uma troca de confissões
que se escreve livremente nas paredes.
Que nos ultrapassa fisicamente
e é apenas o medo
de mais um discurso mudo.
CRV - Dez/2010
bocados de gente flutuante
que ondula ao sabor do vento. Ombros,
mãos e corpos calcinados.
Sobreviventes saem das pedras queimadas,
pessoas pensativas que agarram no sofrimento,
fresco, como o barro que se quer modelar
e não se consegue.
Amassa-se a passagem das almas,
numa panorâmica actual.
Os turistas tiram fotografias.
Registos do contraste de calor
nas figuras queimadas. Há abraços perfeitos
nesse deserto novo, com cores diferentes,
vidas diferentes.
E a mulher olha.
Há uma relação diferente com
os outros desertos anteriores.
A ilusão é perfeita. Estendem-se
braços como o estuário de um rio
na esperança de agarrar os peixes
que saltam por entre as estações.
Fogem todos, desaparece tudo.
Nada fica.
A sombra, os discursos, as gentes,
os homens feitos de barro
e o horror de nada compreender de uma cidade
que era uma outra ordem do mundo.
Ficam as mãos, inúteis,
nesta cave, pequena, construída
como uma capital do silêncio.
Há uma troca de confissões
que se escreve livremente nas paredes.
Que nos ultrapassa fisicamente
e é apenas o medo
de mais um discurso mudo.
CRV - Dez/2010
5 comentários:
OLÁ CRISTINA, obrigada pela sua visita ao meu blog e comentário, também gostei muito da vossa companhia, só anseio pela próximo lugar, ruínas kmers, templos budistas, praias desertas, a nossa AVENTURA ESTARÁ SEMPRE NO AR......seja onde for.....
Este seu poema é complexo e tento ler nas entrelinhas o verdadeiro significado das palavras, creio que preciso de mais tempo para o estudar.... a primeira impressão que me fica é de desespero, sofrimento e dor......o MEDO existe em nós e muitas vezes é muito difícil controlar e lidar com ele....
bjº HELENA
Olá Helena,
Obrigada por passar por aqui. É óbvio que também estou ansiosa pelos novos projectos para 2011. A questão é que são muitos e o que é importante é encontrar tempo para os concretizar com a máxima rentabilidade.
Quanto ao poema: Nunca me tinha aventurado nestas lides e o que tenho achado piada é que a poesia dá-nos a possibilidade de sublimar sentimentos e emoções que de uma forma geral nenhuma outra área da literatura permite. O que é curioso é que tenho explorado esse filão e me tenho divertido com ele, muito embora se tratem apenas de ensaios de uma inexperiente sem pretensões a poeta. Mas tem sido muito divertido. Quanto a compreender a complexidade do que escrevo, julgo que não mereço a análise. Às vezes nem eu compreendo o que escrevo porque sai de rajada :)
Engana-se Cristina, aquilo que escreveu diz muito de si, não são palavras vãs, por isso sente que está expressando as suas emoções, as mais intimas, eu também, acho que a poesia tem esse encanto e condão diz tudo que nós não sabemos dizer de outra maneira.... também gostava de o saber fazer, ser poeta não é para toda a gente, mas leio bastante poesia e penso que não a sabendo escrever sinto também algo de poeta na minha alma, gosto e penso que por vezes consigo decifrar, mas é nas entrelinhas que está a chave.... adorei o seu poema, há ali muito da Cristina que conheço e não conheço.....
bjº HELENA
...e tudo acontece quando no desenho das palavras florescem sentimentos que na voracidade da escrita só depois são "interpretados"...
É assim que nasce a razão da escrita e é aqui que estarei para testemunhar o crescimento da sensibilidade poética.
Beijo,prima
Paula,
Obrigada por passar por aqui. Efectivamente é um ensaio. Foi inspirado num livro que li de Marguerite Duras "Hiroshima meu amor". Um abraço, Cristina
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