8.3.10

A Festa do Silêncio

Malásia, Bornéo - Rainforest Discovery Center
Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.

António Ramos Rosa in "Volante Verde"
Fotogr: CRV©

1 comentário:

Olga disse...

The image is sooo beautiful! And such a pity I don't know Portuguese to be able to read this poem in he original :( In English I'm sure it just doesn't sound right. You know, TI, I have a favourite poem by Pasternak and I was able to find some 'official' English translations but they seem to still be not good enough.. Maybe I'll post about it once. Have you ever read 'Doctor Zhivago' by any chance?