8.9.09

Definitivamente, a Paz.

Krutchev e Kennedy em 1961
Hegel entendia a guerra como um bem necessário. Atribuía-lhe um estatuto de essencialidade mobilizadora do desenvolvimento. Criticou e desencorajou os espíritos pacifistas, apelidando as conjunturas, que se caracterizavam pela ausência de convulsões, como compassos de espera típicos da insuportável pasmaceira da paz. Quem sabe se o seu espírito, essencialmente bélico, não se justifica pelo facto de ter nascido no lusco fusco da guilhotina da Revolução francesa, à sombra das canhonadas de Napoleão e dos projectos megalómanos de Frederico o Grande. Divergindo, convictamente, de toda a sua estrutura filosófica sou, claramente, uma devota adepta de todos os métodos pacifistas e, por conseguinte, da Paz. Sempre me fascinou o facto de o Prémio Nobel da Paz ter sido instituído pelo inventor da dinamite, Alfred Nobel. Julgo que, no seu âmago, tratar-se-à de uma última redenção à alma que Alfred, chamo-lhe assim na intimidade, terá feito, como meio de se redimir dos estragos infligidos pela sua descoberta. A opção pela Paz, ao invés de ser considerada uma manifestação de fraqueza ou de derrota é, a meu ver, a única solução inteligente que é verdadeiramente promotora de desenvolvimento e de bem estar social. A coexistência pacífica - filosofia amplamente utilizada ao tempo da Guerra Fria, com o intuito de neutralizar a escalada de tensão entre estados capitalistas e socialistas - já deu provas credíveis de que era possível, mesmo perante políticas antagónicas, gerar o bom senso não altruísta em prol de um bem superior, a paz. Foi este processo revolucionário que permitiu a aproximação de lideres nos anos 50, como Krutchev e Eisenhower e depois Kennedy, estabelecendo-se negociações e visitas de cortesia no âmbito de uma estratégia delineada de aproximação internacional. Foi este processo não beligerante que estaria na génese das grandes transformações pacifistas operadas pela Perestroika em 85 na ex-União Soviética, na “Revolução de Veludo”, em 89 na Checoslováquia, e na queda do muro de Berlim, em Novembro do mesmo ano. Fazendo uma análise, do quadro político dos países envolvidos, constatamos que o desenvolvimento decorrente destas opções não beligerantes resultou, ao contrário do que Hegel preconizava na sua tese, numa verdadeira revolução económica, de valores, princípios e de abertura ao salutar confronto de ideias e opiniões com os países exteriores. Observando o manancial actual de países beligerantes, a Coreia e o Paquistão, constatamos que são países atravancados numa demência nuclear. Sobrevivem - por oposição a viver, bem exclusivo dos cidadãos livres com total liberdade de exercício da sua cidadania - obcecados em pulverizar qualquer tipo de desenvolvimento ou manifestação interna desgarrada da ditadura dominante, anulando e vitimizando personalidades - o medo é igualmente percursor da violência – , evidenciando uma total indisponibilidade para o diálogo e para a cooperação internacional. Assistimos, paralelamente, a uma comunidade internacional indignada, fazendo-nos crer, por vezes, que são apenas os preconceitos morais que tomaram conta do Ocidente, - preconceitos esses denominados Hiroshima e Nagasaki -, que obstam a que acções de carácter mais incisivo se verifiquem junto desses países. A solução não estará na adopção de medidas beligerantes ou no confronto irracional em crescendo. A solução passará, certamente, pela cedência e pela coexistência pacífica dos países envolvidos, à imagem do que a História já nos ensinou. Minorar dificuldades de diálogo, aumentar a eficiência e as multiformes atribuições dos organismos internacionais, promover o desenvolvimento conjunto, cooperar esforços de desenvolvimento. Julgo serem estes os trilhos possíveis para o sucesso e o desenvolvimento global.

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