22.11.10

Ergon Schiele 1890 — 1918

House with drying laundry - 1917
Passei o último Verão por terras do antigo Império Austro-Húngaro deleitando-me com os museus e os banhos de Gellért, em Budapeste, o sul do Transdanúbio, o lago Balaton e toda uma panóplia de atracções que fazem deste país macrocéfalo, uma das regiões mais homogéneas da Europa. Como pequenos satélites, as cidades em redor de Budapeste mantêm a traça e o encanto secular de outros tempos, apesar da tentativa de descaracterização do período soviético que procurou uniformizar, pelo cinzento, as pequenas manchas cosmopolitas do país. Em redor do Lago Balaton, permanecem ainda vestigios, de algum porte aristocrático, dos tempos em que a nobreza vienense fazia destas terras zona de coutadas. Com uma densidade populacional ínfima, as cidades não ultrapassam os 200.000 habitantes, sendo escassas as atracções culturais na região, facto que me levou a rumar, ao fim de alguns dias, à capital do Império, Viena. Fui à procura de Schonbrunn, de Caravaggio e Arcimboldo no Kunsthistorisches Museum, de Klimt e outros no Leopold e no Belvedere. Mas, sem dúvida, foram as obras de Gustavo Klimt que dominaram o meu interesse, pois em mais nenhum sítio do mundo se encontram tantas obras do pintor por metro quadrado. Marcámos encontro no Leopold, situado no famoso Museumsquartier. Mas, curiosamente, quando entrei no museu, não seria Klimt que despertaria o meu interesse. O fascínio ocorreu, inesperadamente, com as obras de um jovem contemporâneo seu, que dá pelo nome de Egon Schiele. O impacto foi imediato.
Two Women -1915
Irreverência, erotismo, revolta, sofrimento, introspecção, cor. Caracteristicas, marcadamente expressionistas ou quando a tela é palco das emoções controversas que atravessam o espírito do artista. Shiele, reflecte nas suas obras uma personalidade marcadamente claustrofóbica e auto-destrutiva, com traços bem definidos e cores que evocam sentimentos intensos. Cativa pela arrogância, pela qual desafia os sentidos, rendendo-nos à sua sexualidade explícita, à angústia da sua alma torturada, ao intimismo das suas relações.
O seu trabalho evoca uma maior liberalidade na abordagem do erotismo, por contraposição à moral hipócrita e reprimida da época. Schiele, seria um dos percursores do movimento “Neukunstgruppe”, formado em 1909, ramo que se destacou das orientações académicas, por estas se confinarem aos padrões clássicos do movimento expressionista. A sua irreverência e o hábito de angariar jovens para posarem como modelos, levaram-no a julgamento indiciado por indecência e sedução de menores. Muito embora os factos não se tenham provado, os seus trabalhos posteriores foram, marcadamente, influenciados pela dor e o sofrimento que experimentou durante os dias que aguardou julgamento no cárcere. Schiele é toda uma controvércia feliz, um génio poderoso que rompeu abruptamente com os preconceitos, desafiou a moral e lançou os alicerces das correntes que transportam para a tela as emoções mais intensas que pairam no universo interior dos artistas. Morreu, aos 28 anos - vitima da gripe espanhola que assolou a Europa do início do século XX e que vitimou 20 milhões de europeus - quando já tinha aquirido um estatuto ímpar no meio artístico vienense. Três dias antes, a sua mulher Edith, grávida de 6 meses, tinha já sucumbido à epidemia.
Intimaly Close - 1918

1 comentário:

HELENA AFONSO disse...

OLÁ CRISTINA,
cá nos encontramos novamente no nosso "local secreto" , onde sempre encontramos tempo para nos deliciarmos com os textos, as fotos ( como este seu post) e o entendimento que não se consegue nem por palavras, nem por encontros.
Realmente este artista, também para mim desconhecido foi uma uma maravilhosa descoberta. Gostei muito.

Em breve voU inciar os meus posts DA AMAZÓNIA, ainda sonho com os voos das aves, ainda oiço os gritos dos macacos, ainda me perco em pensamentos no meio daquela fabulosa floresta,
beijinho
HELENA