O Calvário - O local onde Cristo morreu crucificado na cruz
Entrar na Basílica do Santo Sepulcro é situarmo-nos no local histórico onde se acredita que Cristo foi crucificado e enterrado. O ponto final da "Via Dolorosa". O local onde encontramos as últimas "estações do martírio": a do crucifixo, a pedra da unção, o sepúlcro, a Capela dos Anjos - onde Maria Madalena avistou Cristo ressuscitado -. O interior é pouco iluminado. Lentamente, adaptamo-nos ao lusco fusco. Padres católicos, ortodoxos, gregos ortodoxos, arménios, cruzam-se connosco. Compete-lhes assegurar a guarda dos locais de culto. A administração da Igreja, após séculos de disputa feroz, foi atribuída conjuntamente às Igrejas cristãs Arménia, Grega, Copta e Católica Romana. E, o que é absolutamente paradigmático é que essa custódia foi atribuída no século 19, por decreto otomano, cabendo a abertura e fecho diário dos seus portões a uma família muçulmana que, há várias gerações, é responsável por este acto solene. Multidões rumam ordeiramente para os locais de culto. Pretendem tocar a rocha onde assentou o crucifixo. Situar-se no mesmo local onde Maria recebeu o corpo de Cristo crucificado. Visitar o túmulo de Cristo e ver a pedra de mármore colocada em 1555 que cobre o local onde Cristo teria sido enterrado. Noutro local, num ambiente super lotado, os cristãos ortodoxos atropelam-se para depositarem flores na pedra da unção. Alguns, mais devotos, deitam perfumes e óleos sobre a pedra. Espalham-nos com as mangas dos casacos. Depois, com as mãos. A pedra, que se encontra no local, foi colocada em 1810. Observo, com algum distanciamento, algumas manifestações mais emotivas. Alguns fiéis, debruçam-se sobre a pedra e beijam-na repetidamente. Limpam-na. Mulheres dos países de leste chegam em grandes excursões. Usam lenços campestres na cabeça, saias compridas e rodadas. Rezam ajoelhadas, com ar de recolhimento e angústia. Trazem bíblias com marcadores florescentes que ajudam a dividir os capítulos e os versículos. Manuseiam as sagradas escrituras com a facilidade com que me vejo a consultar um código legislativo. Admiro a destreza. Tenho uma grande dificuldade em identificar-me com estas expressões de histeria colectiva. Acabo sempre por entender as personagens como se se tratassem de uma daquelas peças de teatro do absurdo. Qualquer coisa como o rien à faire de Estragon e Vladimir, que não leva a lado nenhum e é de uma inutilidade prática total. Mas o que é facto é que as personagens insistem infinitamente na prática de actos estéries. Entendo a religiosidade como algo íntimo e pessoal. Um recolhimento que se escusa a manifestações exteriores de tamanha elevação. Mas respeito, naturalmente, a religiosidade de cada um, por mais controversa que ela se me apresente. Fotogr: CRV
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