30.11.15

As Portas do Paraíso

Porta Norte Baptistério de S. João
Seis dias levou Deus na criação do mundo, tendo no sétimo provido o seu descanso. O oitavo dia, segundo as Escrituras, está associado ao dia da regeneração. É por essa razão que os Baptistérios eram concebidos sob forma octogonal, assim como foi o de Florença, situado entre a Piazza del Duomo e a Piazza San Giovanni, em frente à Catedral. O pequeno monumento octogonal, construído sob a torre de guarda de uma antiga muralha romana, foi sendo sucessivamente remodelado até atingir a sua forma actual no início do milenium. Dante foi ali baptizado, assim como alguns dos membros da família dos Medici. Mas seria a remodelação convocada pelo povo de Florença, no inicio do século 15, que iria trazer a beleza que se passou a falar em voz baixa e que deixou Michelangelo assombrado com a certeza que se encontrava frente às portas do Paraíso.

Quando o povo de Florença lançou uma competição para a execução das portas norte do Baptistério, Lorenzo Ghiberti, com apenas 21 anos, ganhou o concurso. Encomendaram-lhe que forjasse duas portas em bronze, forradas a ouro, cada uma com 5 painéis alusivos a quadros factuais do Antigo Testamento em baixo relevo. Ghiberti, levaria 27 anos a concluir os trabalhos, com a determinação de quem empreende uma metamorfose estilística em liberdade, atrevendo-se a cortar com as amarras dos preconceitos prosélitos da época, dando movimento à estatuária sombria medievalista, criando um estilo que ganharia voz e espaço próprio no universo artístico da época. 
O Sacrifício de Isaac
Os painéis narram, numa visão catolicista, a mitologia hebraica da criação do mundo. Adão e Eva, a genealogia dos patriarcas bíblicos e os episódios onde ressaltam as contradições dos homens. o Sacrifício de Isaac, salvo pelo anjo misericordioso e os traços surpreendentemente corajosos de David que, no livro de Samuel, sabemos que representa as forças do bem contra o paganismo dos filisteus. 
David e Golias
David, apesar da sua desproporcionada fragilidade física, consegue agilmente, com a sua funda, levar o gigante ao chão. 
Da história fica a quase destruição das portas do Paraíso com as maiores cheias que à memória em Florença, no ano de 1966. Para satisfação do mundo, encontram-se agora a salvo, seladas em ambiente apropriado, no Museu dell’Opera del Duomo, depois de um longo processo de restauração.

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