9.11.15

Massada

Fortaleza de Massada  (fot: Unesco)
O cerco durava há 7 anos. A 400 metros acima da aridez do deserto da Galileia, protegidos por escarpas íngremes, caminhos inacessíveis e uma fortaleza construída por Herodes, 1000 zelotas judeus, refugiados do assalto a Jerusalém, encontravam-se na latitude da intolerância do exército romano. Determinados em conquistar o penedo e a acabar com a insurreição contestatária, a planície passou a aquartelar 8 acampamentos romanos dispostos em circulo no sopé da montanha. Muito embora sem qualquer importância estratégica, Massada passou a constituir uma perturbação no orgulho vitorioso romano, habituado a arrasar todas as demonstração obtusas contrárias à sua hegemonia militar e a esmagar todas as personalidades fenoménicas que extravasassem o formato domesticado dos seres inertes subjugados.

No planalto, os zelotas encontraram a sua solidão hostil dentro da antiga fortaleza de Herodes, recusando a convolação da sua existência à escravidão. Viveram dos mantimentos que encontraram no palácio, de um sistema de aproveitamento das águas das chuvas que as conduzia habilmente para uma dúzia de cisternas, reunindo na escassez o suficiente para sobreviver o ano inteiro. 

Durante os 7 anos do cerco a questão da rendição foi preterida dando lugar à dignidade da morte colectiva, no momento do assalto romano. Segundo Joseph (37-100 dC), o relator judeu das guerras judaico-romanas, do grupo de quase 1000 zelotas sitiados no planalto de Massada, apenas 7 sobreviveram. Duas mulheres e 5 crianças, refugiaram-se numa cisterna de água, enquanto a morte de homens, mulheres e crianças, atravessava a fortaleza pelas mãos de 10 líderes rebeldes, dando assim ao homicídio colectivo o ar de suicídio confuso e urgente. 

Lembrei-me deste episódio da Guerra judaico-romana quando li uma notícia sobre as escavações arqueológicas levadas a cabo em Massada por Yadin, no ano de 1963, e que puseram a descoberto sementes de tâmara, com 2.000 anos, acondicionadas em recipientes de barro da época. 

Methuselah
Analisadas as sementes, constatou-se que seriam de uma espécie de tamareira já extinta e que, segundo as escrituras desse tempo, preenchiam todo o vale da Galileia, desde as margens do rio Jordão até ao sul, às planícies do Mar Negro. 

Durante 4 décadas, as sementes de Massada ficaram guardadas numa gaveta da Universidade de Tel-Aviv até que a investigadora botânica Elaine Solowey, decidiu, sem grandes espectativas, plantar uma dessas sementes em 2005. Oito semanas depois, a semente guardada com 2.000 anos tinha germinado, dando origem a um tamareira a que apelidaram de "Methusalah", em homenagem à pessoa que mais anos viveu segundo a Biblia. Em 2011, e com 3 metros de altura, a jovem tamareira, que aguardou pacientemente por um relance de vida, esbateu-se profusivamente nas suas primeiras flores. Aguarda-se com silêncio inflamado as primeiras tâmaras.

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