20.10.14

Tyler v/s THE WORLD

Ao fim de 4 anos volto a reler as notícias do suicídio de Tyler Clementi, o jovem estudante da Universidade de Rudgers, que encontrou a morte nas águas geladas do rio Hudson, porque não conseguiu lidar com o bullying a que foi sujeito na sequência de um encontro amoroso. Por ser gay, por ser boa pessoa, por acreditar que a linha que delimita o pequeno mundo da sua privacidade não devia ser abusivamente violada por um grupo de idiotas sedento de sangue. Dharun Ravi, o seu companheiro de quarto, antes de lhe conceder alguns momentos de privacidade, configurou deliberadamente a webcam do portátil, apontando-a para a cama de Tyler. Por controlo remoto accionou a câmara tornando o encontro íntimo do colega numa sessão televisiva pública divulgada e comentada nas redes sociais universitárias, expondo a intimidade e a privacidade do seu encontro amoroso. Tyler, que nesse Verão tinha enfrentado os seus fantasmas, assumindo-se perante os pais e perante a sociedade, viu serem defraudadas todas as suas expectativas quando convergiram sobre si, acobardadas atrás das câmaras, todas as consciências do mal. Indefeso, incapaz de superar a traição, sentiu que a estrada do futuro lhe havia sido ceifada restando-lhe apenas a vereda da desolação.

Recordo este episódio que me impressionou pela intolerância e pela maldade gratuita, pois pouco tempo antes alguém que conheço bem passou a ser vitima de cyber-bullying por parte do Pedro e do Alexandre, dois bloggers instalados no nosso universo cujos instrumentos de desmobilização e de intimidação passam exactamente pelo mesmo processo, mas por outros também, acompanhados por um coro de seguidores iniciáticos, ou reincidentes, que encontraram na violação da privacidade alheia um modo de diversão sádico e caustico com o intuito de angariarem material para darem largas à sua letra. Os modos de angariação passam pelas escutas telefónicas, pelo assalto às bases de dados particulares e profissionais, pelo desvio de mails e furto de passwords, pela invasão dos equipamentos informáticos, pela instalação de cavalos de tróia e de links que redireccionam a vitima para sites obscuros numa escalada estratégica de violência e destruição. Se equacionarmos qual a razão deste e de outros ataques informáticos com intuitos bullynescos a explicação só pode residir no vazio da própria consciência e do carácter, bem como numa estúpida premissa que considera o respeito pelo espaço alheio numa imprudente generosidade que deverá ser liminarmente rejeitada.
Pelo meio ficam os textos e os livros, os pseudónimos e toda uma construção em pirâmide que mais tarde ou mais cedo será necessariamente exposta.
Contudo, ao contrário de Tyler, a vítima destes ataques não encontra no fundo do rio a solução nem o futuro. Não por falta de coragem, mas por entender que é altura de emergir de um silêncio contrariado, reduzir a imobilidade, o prolongado receio, transpor os entraves e transformar as agressões em pequenas epifanias, convolando cada átomo suspenso numa justa predisposição em sentido inverso à estagnação e ao silêncio.

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